Poesia em livro e em vídeos na Rua do Hospíci0
Cineasta lança livro de poesia acompanhado de videopoemas
Nessa quarta-feira 1 de
dezembro, o cineasta, fotógrafo e professor do curso de cinema da UFPE Camilo
Soares lança seu primeiro livro de poesia, Palavras Sujas
Sobre Azulejos Brancos (Editora Trevo, 72 p.), no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP),
na rua do Hospício, Boa Vista do Recife a partir das 18h. O Lançamento será acompanhado
por 10 vídeospoemas inspirados no livro , além de debates e declamações de
poetas como Renata Pimentel, André Telles e HVB. Depois haverá um segundo tempo
no Iraq Club na Rua do Sossego, com performances, declamações e muita música de
responsa dos DJs Flavão e Evandro Q.
Camilo é diretor de
fotografia de King Kong en Asunción (filme dirigido pelo Xará Camilo Cavalcante e grande vencedor do Festival
de Gramado em 2020) e co-diretor de Muribeca (documentário também dirigido por
Alcione Ferreira em 2020, que acaba de estrear na telona no CinePE depois de
passar por vários festivais internacionais e brasileiros), além de fazer parte
do Coletivo de fotografia Cria. Palavras Sujas Sobre
Azulejos Brancos acaba trafegando por diversas linguagens nas quais
Soares transita. Esses videopoemas foi também a maneira que
encontrou para celebrar aos poucos a publicação com amigos nos tempos de
isolamento social. Foram mandando à distância as declamações de trechos do
livro por áudio enquanto Soares filmava imagens ou encontrava em seus arquivos
pessoais fotos e vídeos para abraçar as vozes.
Preferiu esperar meses
antes de fazer o lançamento presencial. Mas valeu a pena,
pois foi surgindo o projeto #PalavrasSujasSobreAzulejosBrancos,
no Instagram. O projeto que já conta com trechos interpretados por
poetas como HVB, Gleison Nascimento, Renata Pimentel, Trelles, Tenille Bezerra
e pelo professor Francisco Foot Hardman. São vídeos pílulas, para abraçar a
linguagem da plataforma virtual. Novas parcerias estão surgindo para explorar o
poder imagético das palavras e celebrar a amizade e a poesia.
Acabou que #PalavrasSujasSobreAzulejosBrancos virou um complemento que reforça as imagens geradas pela escrita. Num livro
onde a fotografia aparece refletindo luzes, formas e ambientes, o cinema é evocado
no ritmo sincopado da montagem, e a música, na melodia das frases e citações de
canções. O professor e poeta André Telles do Rosário concorda, lembrando que
Camilo é fotógrafo de filmes e diretor, além de pesquisador que acaba de publicar
na França um livro sobre o cineasta chinês Jia Zhangke, e que faz parte do
coletivo fotográfico CRIA (com Alcione Ferreira e Iezu Kaeru). Telles evoca
travessias de várias linguagens até chegar à poética desse livro:
"Camilo já publicou Poesia, mesa de bar e goles decadentes,
livro fundamental sobre a artevida de três dos mais centrais poetas marginais do Recife: Miró, Luna e Zizo. […] Como cineasta,
assinou a ficção absurda e poética
Sue e a crônica da morte de um bairro vibrante no documentário
Muribeca
(em parceria com Alcione Ferreira). Tampouco é a primeira vez que seu olhar traduz/inventa mundos – fotógrafo de filmes como King Kong en
Asunción (melhor longa do Festival de Gramado de 2020). Palavras
sujas sobre azulejos brancos é, sim, a primeira vez que sua poesia aparece com o foco completamente
voltado para si.
Nessa interseção de
imagens, nasceu um falso novo poeta, como diz a dramaturga e escritora Renata
Pimentel, no "antiprefácio" para o livro:
"Camilo é poeta antigo, no começo da sempre reiniciada
jornada e, como Octavio Paz, consagra cada instante com sua grafia suja, sobre
um nunca imaculado intervir do animal homem.”
Suas poesias, não por
acaso, estão repletas de luzes, reflexos, atmosfera de cores e ruídos, preenchidas pelo
cheiro da chuva impregnando o presente de memória. Mas uma memória ativa,
estradeira, um road movie em palavras, onde se
encontra amor, desilusão, política, descobertas; onde se contempla cidades e
curvas nos caminhos:
Olha enfim ao lado
e a reconhece
não sabe o nome só lembra
nos mesmos rios somos e não somos
apenas ruídos
onde se perde a memória de apoiar os ventos
descobre não saber mais o caminho de casa
que não há mais volta
que a estrada é mais larga que o destino
sombra da casa casa
de ninguém
casa do mundo que habita em você
seu caminho
(trecho de Oriente)
Ou desprende seu olhar afiado pelas lentes das câmeras por entre meandros e
limites da representação, como modo de estar no mundo:
A mão
A māo que descreves é palavra
e nāo tocará o rosto
será som e ideia
desejo de voar
respirar a brisa da noite
fazer sentir seu toque
A mão que lembras é imagem
e não tocará o rosto
será forma e intento
desejo de luz e vento
ser puro ser agora
sentir quando te acaricia
A mão que sonhas é ideia
e entrançada a devaneios
não tocará o rosto
formará imagem
repetirá tantas vezes palavra
que acreditarás no toque
jamais acontecido
Como num haicai, em orientes já percorridos por seu olhar, a singularidade se
desmancha ao vento soprando presença sobre o tempo, em paisagem que parece
perguntar:
O que será do não viver
no tempo inexistente
além do vento balançando o agora
nas folhas que cantam no jardim?
(trecho de O tempo e suas desistências)”
Contato: Camilo Soares @camilosoaresrec
Serviço:
IAHGP
(18h-20h30)
Rua do Hospício, 130, Boa Vista, Recife
Iraq
(a partir das 20h30)
Rua do Sossego, 179, Santo Amaro
Palavras Sujas Sobre Azulejos Brancos
R$ 30,00
http://editoratrevo.com.br www.amazon.com.br
(também em eBook)
Ou diretamente pelo @camilosoaresrec.
#PalavrasSujasSobreAzulejosBrancos
No Instagram, busca a hashtag ou o perfil @camilosoaresrec