por Yvonne Miller__
Jr Korpa |
— Boa tarde.
Duas cabeças se levantam
simultaneamente.
— Alguém de vocês sabe fazer
isso daqui?
Mostro a foto no celular.
Vislumbro uma dúvida na expressão do rapaz atrás do balcão enquanto ele estuda
a imagem. O outro se aproxima. Lança um olhar fugaz sobre a tela.
— Sei, sim.
Nas palavras dele há segurança,
como se fizesse algo assim todos os dias. Mas quem sabe realmente ele faz. Eu
que não faço mesmo. Já deve ter passado no mínimo um ano que não piso num lugar
desses.
Ele me acompanha até o fundo do
estabelecimento com a parede cheia de espelhos. É um moço bonito, simpático,
uns dez anos mais jovem que eu, o que, ao meu olhar, lhe dá um ar de ingenuidade.
Será que ele sabe mesmo? Mas agora é tarde para voltar atrás, já estou aqui, vim
porque quis, ninguém me obrigou, e ele já começou a se preparar.
— Vou colocar o celular aqui na
mesinha, caso você queira olhar de novo — digo, esperando que ele faça uso
dessa proposta.
— Pode desligar, já sei como é.
A autoconfiança na sua voz me
reconforta. Então sento naquela cadeira de couro falso, me recosto e por um
breve momento me observo no espelho, uma última vez. Depois fecho os olhos e me
entrego nas mãos dele.
— Relaxa — ele diz atrás de mim,
suave e firme ao mesmo tempo.
Sinto o toque dos seus dedos no
meu cabelo e durante a próxima meia hora não abro os olhos. Numa gostosa
ansiedade presto atenção nas sensações acima e embaixo da minha pele, no cheiro
de cremes perfumados, no rasp, rasp perto do meu ouvido.
— Pronto! — ele exclama
finalmente.
E então sou tomada por um
delicioso estranhamento ao olhar no espelho e ver, pela primeira vez, aquela
nova versão de mim mesma. O corte não ficou exatamente igual ao da moça na
foto, mas o interessante nem é tanto o resultado e sim a experiência, o provocar
a mudança, o fazer a transformação. Me sinto diferente, reinventada, como se,
até me acostumar novamente, pudesse ser outra. Uma outra nova eu.