por Valdocir
Trevisan__
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Engraçado,
mas não acho graça nenhuma em comédias e raramente assisto. Engraçado, não
gosto de ver comédias e não sei explicar a razão.
Já me
chamaram de ser uma pessoa muito "séria", mas quem me conhece sabe
que sou bonachão.
Talvez
por isso, as lágrimas não perfazem minhas rotinas. Ainda assim, não fico
sorrindo à toa.
Até nas
minhas crônicas, nem sei se existe com essa temática, uma exclusivamente
"engraçada". Exageros à parte, sou do drama, da história, da filosofia,
do existencialismo, da comunicação...
Já
repararam que nos teatros, todos rolam de rir e liberam suas gargalhadas com
naturalidade. No cinema também. Risos que provocam sorrisos. Quem não dava
gargalhadas ouvindo as risadas do Bira no programa do Jô?
Ao mesmo tempo, por que temos vergonha de
mostrar nossas lágrimas nas mesmas situações?
Nossas choradeiras, não são também naturais? Além
dos poemas "trágicos" que nos comovem, existem aqueles onde choramos
de tanto rir. Chorar de tanto rir? É, tem isso...
Ainda
assim, lembro de situações que ri até o raiar do dia, como a de uma cena com
Eddie Murphy que não consegue atravessar uma pista de seis vias. A outra foi no
citado programa do Jó, numa entrevista com um vereador gago (procurem no
YouTube).
Mas
vamos lá, se estamos debatendo sorrisos e choradeiras, estamos diante de emoções,
coisas boas e ruins, o amor e a violência.
A
eterna dicotomia entre o bem e o mal, em como encaramos o cotidiano.
Evidente
que sempre almejamos alegrias, são tendências normais, porém a violência também
está presente. Pena. Vivemos época de "fazer arminhas", onde assunto
bélico é mais relevante do que Educação.
Sou
extremista...da pacificação, nunca peguei uma arma na mão.
E nem pretendo, assim como não pretendo rir de
coisas "sérias", menosprezando assuntos delicados, prefiro chorar de
alegria. E aí sim, chorar de alegria, sentindo os alívios humanos.
A ganância política e econômica me revolta e
aí também as lágrimas respingam nos meus olhos. Como sorrir de menosprezos políticos,
econômicos e até climáticos?
Para
onde olha o caminhante sobre o mar da névoa de Caspar David Friedrich (1817)?
É, tem situações em que a presunção e a ambição impedem sorrisos naturais.
E
ficamos nas nuvens procurando horizontes.
O eterno sonho do consumista que deseja as
belas roupas que não pode comprar. O eterno sonho de achar que aquela roupa
linda e cara vai trazer felicidades, pois imagina como as pessoas que as usam são
felizes. E não imaginam quantos "infelizes" estão dentro daquelas
brilhantes vestimentas. Roupas que sim, podem trazer sorrisos de alegrias,
porém não garantem distâncias das lágrimas. São apenas roupas. Fica claro que a
insatisfação consumista escurece certas nobrezas existenciais, algumas chegando
ao extremo de pular do trigésimo andar.
Quem
teria direito a atitudes radicais seriam escravos coloniais e pós-modernos.
Sim, há muitos escravos na atualidade com suas mentes encarceradas.
Mas
ainda é pouco para o sofrimento dos africanos em séculos passados. Joseph
Conrad narra o horror: "vultos negros agachavam-se e sentavam-se entre
as árvores encostados nos troncos, grudados no chão, meio visíveis, meio
ocultos na penumbra com todas as atitudes de dor, abandono e menosprezo".
Para roubar marfim, valia tudo, a família real
britânica precisa de capital. Para o povo bater palminhas em seus casamentos
reais e milionários que a mídia mostra antes das suas lindas novelas. Uma
novela após a outra para o miserável ficar feliz.
A indústria cultural ativa, como sempre. Para
piorar, as queimadas trazem céus nebulosos de fumaça, elevando a choradeira.
Fica difícil de sorrir com a boiada passando.
Mas sei e tenho certeza de que os sorrisos
também irão passar por cima das lágrimas...Um dia...
A
natureza vai cobrar caro, aliás, já está cobrando. Entre prós e contras ainda
acredito no bom senso humano. Na simplicidade para derrubar objetivos confusos
do capital.
O
espírito positivo resiste como arma do sorriso. A Lei dos Três Estados de
Augusto Comte revela que a teologia explica o mundo (1), a metafísica e suas
argumentações ampliam explicações (2), para alcançar o tal espírito positivo (3)
com observações e experimentos.
Que
beleza, vamos "sorrir" dos miseráveis trabalhadores da Revolução
Industrial e da escravidão, afinal nosso lema é "Ordem e Progresso"
para alegria de Augusto Comte. Vivo no paradoxo do ceticismo e do dogmatismo,
um cético duvidando de alguns choros, aquelas lágrimas de crocodilo. E como
endossar dogmas, admitindo certezas numa época de incertezas?
Prefiro
ficar na minha, não rindo por qualquer motivo como um bobo alegre, porém não
vou sair chorando por aí só porque dizem que chorar é humano. Rir ou chorar faz
parte do ceticismo, pois como julgar alguém só porque chora ou dá risadas?
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui