por Bruno Ramalho__
saudade é dor em rio,
do olho-d'água da gente
à foz no mar do vazio.
*
profícua inconclusa,
a palavra,
remota lembrança
do que foi um dia,
faz, parida
da incerteza absoluta,
nascer enxuta, enfim,
a poesia.
*
em meio aos cacos
de um mundo louco,
os fracos acham
que poesia é pouco.
*
coleciono
insônias de paz;
durmo pouco,
suspeito,
porque acordado
sonho mais.
*
serei eu, minha gente,
um tolo a cumprir os prazos,
se o próprio tempo, ultimamente,
tem sido fiel aos atrasos?
*
do ido assentado,
faz pouco sentido:
um doido acentuado
nem sempre é doído.
Bruno Ramalho de Carvalho (1978, Rio de Janeiro, RJ) escreve poemas, diverte-se tocando despretensiosamente o flugelhorn e se interessa por filosofia. Médico ginecologista em Brasília, DF, atua na área da reprodução humana assistida. É autor dos livros A penúltima coisa que se faz (edição do autor, 1999); Do amor deveras e das quimeras (e-book, Emooby, 2011); e livra-me, poesia (Scortecci, 2019), todos de poesia. Tem poemas publicados em revistas e portais de literatura, como Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto e Mirada. Tem, ainda, mais de 70 artigos publicados em periódicos científicos. Lançou em 2021 Uns amores bemóis (Editora Patuá).