por Fátima Farias
Foto: Ian Kiragu |
Sobre Pedras
No meio do caminho
não haviam Pedras
tudo era límpido
estrada sem fim
alguns galhos secos
Uns que outros grilos esquilos
até formigas
pedra alguma
apenas caminho
Lá bem no fim
um facho de luz
anunciava o começo do dia
sem pedras no caminho
Tudo era Poesia.
Nesse Estado
Bom viver
em Estado de poesia
cidade
vilarejo
país
eu sempre quis
aceitei poesia
sonhei ser poeta
em rabiscos comuns
papel pardo como algumas peles
guardanapos de papel
panos de prato
palma da mão
em todo lugar
sempre vivi a Poesia
inclusive a fome que avança
alivia com as palavras
na falta
a de pão
versos
na hora da morte
versos
a poeta poetiza
pois precisa segurar o choro
Poetiza "poeteia"
como aranha cria casa
escreve sonha
concretiza
usa e abusa
cria asa
realiza
organiza
nas páginas de um livro Vivo.
Cores e Dores
Adoro combinar
flores
dores
amores que não deram certo
colares
argolas
missangas
figas de Guiné
penduricalhos
alhos
bugalhos
ensinamentos centenários
jaquetas
casacos
blusas
Adoro revirar o armário
doar aos pedacinhos
espalhar o pouco que sei
e depois
voltar para casa extasiada
com a bagagem carregada
do que aprendi pelos caminhos
andei e andarei
aprendiz sempre serei.
Mulher
Preta
Mulher Preta
te agiganta
solta as rédeas
te liberta de culpas não tuas
não tema as ruas curvadas
que transitam em ti
não seja tua própria presa
te desculpe
nenhuma nudez será castigada
Mulher Preta
te livre das amarras
impostas por teu algoz
é teu o Axé de fala
perca o medo
solte a voz
por mim
por ti
por nós
Mulher Preta
deusa da rua
do lar
do mundo
mundo imundo que te rejeita
o mesmo que se sustenta
a partir de ti
de outras como tu
conservadas na base da base
abaixo da sola dos pés
Mulher Preta
Negra Mulher
és a luz
que ilumina outras
és quem te segue
e ainda crê
és tudo de bom
a sociedade não quer ver
pois acha que tu
por ser Preta
nada além de escravizada
pode ser.
Absolutamente não
não somos irmãos
se a bala perdida
tem só uma direção
tá lá
mais um corpo Negro
estendido no chão.
Fátima Regina Gomes Farias nasceu em Bagé em 23 de outubro de 1959 tem dois filhos e três netos. Reside em Porto Alegre na Zona leste Bom Jesus.Tem projetos literários como a Geladeiroteca da Bonja que tem o objetivo de espalhar livros e histórias para jovens e crianças no sentido de valorizar a educação arte e cultura. Participa de projetos em escolas entre eles Adote um escritor Smed. É profissional da gastronomia, está atenta e sonha com mudanças através da Palavra dita com verdade e convicção. Escritora poeta e compositora tem obras publicadas em coletâneas e lançou seu primeiro livro Solo Mel e Dendê pela editora Libretos em março de 2020.