por Yvonne Miller__
— Vó! Onde
a senhora estava?
— No
mercado, meu filho.
— No
mercado?! A esta hora?
— É de
24 horas, ué. E agora de madrugada tem menos gente.
— E
cadê as bolsas?
— Que
bolsas?
— A
senhora foi pro mercado e não comprou nada?
— Comprei
não. Fui só pra namorar.
— Para
o quê?
— Namorar,
filho. Namorar. ... Por que essa cara?
— E o
vô?
— O que
que tem com seu avô?
— Ele
tava junto?
— Claro
que não, né? Você sabe como seu avô gosta de dormir cedo...
— Mas
vó, peraí... A senhora é casada. Não pode ficar namorando um cara no mercado,
tá?
— Eu
disse que tava namorando. Não disse que tava namorando com um cara.
— Como
assim? Ou seja... a senhora está...
está... quer dizer que a senhora é... peraí,
uma mulher?!
— Olha
a cara de abestalhado que você pôs agora! Cadê meu celular pra tirar uma foto?
— Vó, não
estou achando graça nenhuma. Me diga agora com quem a senhora está namorando!
— Tá
bom, tá bom, não precisa ficar chateado. Chama-se José Maria. Ou era Maria
José? Ihhh, não lembro mais. Você sabe que ultimamente minha memória tá
deixando a desejar...
— É.
Parece que até dos seus 50 anos de casamento a senhora esqueceu...
— Vixe,
tudo isso?! É muito tempo. Talvez você tenha razão mesmo. Será que devo me
separar?
— Sim, vó, é isso aí. Ainda bem que a senhora
compreendeu. Amanhã volta pro mercado e... peraí! Está dizendo que vai se
separar de quem?? De José-Maria-Maria-José ou do vovô?
— Ah,
nem sei mais! Isso das 24 horas cansa pra caramba. E aí eu chego em casa e a
pessoa ainda me vem com um interrogatório. Eu hein!
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