por Taciana Oliveira__
CADERNO DE ESQUECIMENTOS
Faça um
caderno de viagens se
Não
quiser se esquecer de mais da metade
Dos
lugares em que esteve ou
Antes
de dormir
Peça
para sonhar
Agora
não sei mais se foi minha mãe, meu pai ou minha avó
Quem me
disse para não apontar para as estrelas
Porque
me nasceriam verrugas
Como as
de uma bruxa
Agora
não me lembro se na ponta dos dedos ou do nariz
Das
estrelas me lembro, nunca mais as vi
Eram
como vaga-lumes acesos no abismo escuro
Se eu
as tivesse contado e anotado em um caderno
Hoje
saberia quantas eram
E quem
me acompanhava olhando o breu.
VÍRUS
A
borboleta azul toca a genciana roxa
Cavalos
selvagens se recuperam nas estepes
Em
lugares em que o homem parou
A
vida continua
O
elefante e o rinoceronte indianos
Só
têm uma esperança
Assim
como as orcas e os golfinhos
Aguardam
nossa reclusão
Terrível
proibir-nos abraços
Quando
vem uma peste que nos chama pelo nome
Mas
os canais de Veneza ficaram limpos
Sorriram mostrando seus peixes.
FICÇÃO
CIENTÍFICA
Quando
tudo for desolação
Ainda
teremos livros sagrados
Em
que uma história conveniente
Deu
toda a Terra ao homem
(e
nunca mais ele se contentou
com
um lugar modesto no planeta)
Somos
conhecidos como os grandes-boca-de-peixe
Nas
montanhas as cabras nos tratam por
Bocas-do-abismo
Em
uma convenção de pássaros
Nos
definiram como os hálitos-venenosos
Há
dias os golfinhos conversam sobre nós
“Se
havia tanto amor que praticassem”
(o
capitalismo é uma doença autoimune
o
deus que dança é uma baleia jubarte)
Ainda
assim faremos nossa sopa de
Barbatana
de tubarão
E
os filmes de ficção científica
Vão
continuar tentando
Salvar
nossa raça extinta.
Taciana Oliveira
– editora das revistas Laudelinas e Mirada e do Selo Editorial Mirada. Cineasta
e comunicóloga. I'm dancing barefoot heading for a spin. Some strange music
draws me in…