Sombras, Lisiane Forte

 

por Lisiane Forte__

 

Xianyu hao

Disse-me que o desejo não pereceu aos pactos clandestinos. Que não foi capaz de dominar o dilúvio do copo de vinho. E era puro sangue que caia de suas mãos ensanguentadas.

 

Deteve-me a dizer que há uma batalha adiante, das muitas que já perdera. Afligido de jamais ver o nascer do sol, das trevas que, por ora, habita. E era lunar os seus olhos magentos.

 

Pudera, agora, ir além de peregrinar ao ritmo daquela canção antiga. Pudera ser veloz e voar, mas só posso contar os passos que dou em direção às sombras, a fim de não me perder.

 

Um atrás do outro, o passo.

 

(...)

 

Apenas as sombras à frente. Mal clareiam  os relevés em meia-ponta dos meus pés. Sinto o metatarso e planto todos os dedos no chão. Agora sou uma árvore e mantenho o equilíbrio. Tateio no agora, o vislumbre escatológico de estarmos aqui, enfim. E mesmo díspares, imersos na tentativa vã de alcançarmos o que dizem do celestial.

 

Da transitoriedade dos dias,

de tudo o que está em fermentação

e do que inflama o coração dos homens - das massas que fazem ligas - nós e os nossos nós.



 


Lisiane Forte
é psicóloga clínica, escritora, ilustradora, fotógrafa, Colaboradora do Mirada Janela, membro efetivo da Academia Brasileira de Psicólogos Escritores, arteterapeuta, atua com expressões corporais em sua clínica artística, Clínica Instante e autora dos livros "Liames", “Zonas Abissais”, "Psicologias em Reflexão l e ll' e no prelo “Aqui e Agora | viver a vida de perto”