Um texto de Bruna Sonast

 por Bruna Sonast__


Ilustração: Sablina Cavalcante



Escrevo. Como quem joga as palavras ao vento, ao mar, ao fogo. Como quem faz uma coisa outra com as palavras, que se dispersam, uma vez que escreve – si. Escrever a dinâmica das rotas que ultrapassam a própria natureza gráfica de significado/significante para, simplesmente, significar.


Significou algo para mim? Para ti? Para nós?


Escrevo. Como uma possibilidade nova de quem escreve em tantas dimensões. Escrever para compreender, para escutar, para respirar, para comunicar, para agir, para sobreviver, de cá, de lá, e além.  Escrever como quem escapa. Como quem não escreve mais.


Escrevo. Por intuição. Por vontade. Por desejo. Por capricho. Por ego. Por magia. Por sedução. Por amor. Por ódio. Por necessidade. Por resistência. Por sobrevivência. Por escapatória.


Escrevo. Como ação inacabada, sempre e mais e jamais, quando as palavras vão e voltam. Em partida e chegada e partida e chegada e partida.  Com a força de um chute, com a rispidez de uma cicatriz, e também com a beleza de uma telha de vidro que reflete a poeira de uma casa velha.


Escrevo. Em coletivo, em partilha, em multiverso, e em alternativa. Como quem perde tempo. Como quem ganha tempo. Como quem vive outro tempo. E como quem rompe as barreiras do agora.

 

Escrevo.

Como a linha de fuga de mim mesma.

E como a estrada que me leva na mesma direção.

 

 

 

 

 

 

 


Bruna Sonast
é escritora independente. Vive na e pela poesia dos dias, seguindo os (des)caminhos do sul, do aqui-agora. Publicou “vestígios” em 2020, com nova impressão em 2021. Organizou e participou com poema em “baRRósas: memória e poesia” (Selo Mirada, 2021).Tem graduação em Letras e mestrado em Linguística Aplicada, pela Universidade Estadual do Ceará. Integra a coletiva de mulheres “baRRósas”.

 


 



Sablina Cavalcante
é filha de um amor que nasceu no carnaval de Morada Nova, minha infância foi inteiramente repercutida nos sertões do Nordeste. A tristeza já foi uma grande amante de tudo que me transformei, no mais, minha autonomia foi quem casou comigo. No sertão, na periferia, nas calçadas, descalça e verminando na rua, é que surge toda minha potência artística. Cursa teatro no IFCE e integra a coletiva de mulheres “baRRósas”.