por Anthony Almeida__
Cici está distante. Mas já esteve bem mais. Na verdade, seu lugar
permanece o mesmo. O que mudou foi o nosso jeito de olhar para esses 2800 km.
Cici, mamãe, agora está mais perto.
Antes, nossa falta, aquela ausência que sentimos por não ter alguém que
bem queremos por perto, era maior. Não fazíamos ideia de quando seria nosso
reencontro. Convivíamos e convivemos pelas mensagens de áudio, chamadas de
vídeo e emojis de coração. Calculávamos a nossa separação, o afastamento entre
a gente, com medidas de tempo e não de espaço.
Eu estava apartado dela não por quase três mil quilômetros. Estava há
não sei quanto tempo da sua companhia. Ainda que o caminho entre duas pessoas
que se gostam seja enorme, ele fica menor, mais tragável, quando se sabe quanto
tempo se levará para que ele seja percorrido.
Hoje, ainda que geograficamente deslocado, sei que a verei de novo em
questão de meses - muitos, mas meses. Não são mais anos ou "não sei quando
vou aí, mamãe". Meses são bem mais suportáveis do que o infinito e suas
incertezas.
Meu pai, cheio do mesmo e forte desejo do reencontro, já conta os dias.
Toda manhã, depois de acender a boca do fogão, para preparar o café, meu velho
guarda um palitinho de fósforo queimado. "Passou mais um dia, falta menos
um", compartilha, sorridente, com mamãe.
Presidente
Venceslau. Março, 2022.
Anthony Almeida é professor e cronista. Nasceu em Caruaru/PE e reside em Presidente Venceslau/SP, onde leciona. Pesquisa a Geografia Literária, escreve e estuda a crônica brasileira. Atualmente é cronista do Jornal Tribuna Livre e da Revista Mirada. É doutorando em Geografia, pela UFPE, editor adjunto da RUBEM – Revista da Crônica, e colecionador de cartões-postais. Contato: anthonypaalmeida@gmail.com