por Lisiane Forte__
Caço,
sedenta, a saudade que irrompe como uma onda tempestiva, veloz e feroz. Feitio
aquático dessas marés cheias. Fecho os olhos salobros e busco sentir o que,
talvez, nem tenha mesmo acontecido: coisas dos raios que caem atormentados e
indiscretos sobre o mar.
O
percurso estrondoso marcha de solas grossas sobre as minhas recordações.
E são
tantas,
todas
elas:
saudades,
escolhas
e marés
que enfrentei.
Morri e
nasci muitas vezes,
esforçando-me
a respirar dos instantes que tirei o sal da minha boca insaciável, que tudo
engolia sem mastigar e ainda tinha sede e fome das águas salgadas e das algas
vermelhas.
Pés
molhados sobreviventes sobre as conchas cortantes dos recifes pontiagudos – e o
mel que descia era puro sangue quente, dos cortes e das saudades que nem sei se
existiram.
— A maresia tem odores que dependem dos
mergulhos!
Lisiane Forte é psicóloga clínica, escritora, ilustradora, fotógrafa, colaboradora da Mirada Janela, membro efetivo da Academia Brasileira de Psicólogos Escritores, arteterapeuta, atua com expressões corporais em sua clínica artística, Clínica Instante e autora dos livros "Liames" e "Zonas Abissais".