Chocagem | Anthony Almeida

 por Anthony Almeida__

 




– Oaí, as chocadeira que eu fiz aqui. Peguei umas gaveta velha, dessas de guarda-roupa e armário, e coloquei uns forro de isopor, de papelão, e uma tela de acrílico, pra ficar vendo os ovo. Depois, é só botar as lâmpada, pra esquentar os ovo até os pintinho nascer. Dá pra fazer naquelas caixa de isopor, onde vende cerveja e refrigerante, sabe?. Agora, não tá dando muito certo não. Falta um material, uma ferramenta, que eu preciso e não tem aqui na cidade. Eu já rodei! Chama... Como é o nome? Deixa eu ver... Ééé... Numseuquetato... Peraí, é um termos... Termostato. É uma ferramenta que é pra controlar a temperatura, pra num subir, nem baixar. Bota ela dentro da chocadeira e, quando tiver esquentando, ela controla. Nem sobe nem desce. Fica na temperatura que os ovo precisa. É termostato, termostato pra chocadeira!


– Eu tô botando esses ovo pra chocar e depois vender, meu filho. É comércio, que vende muito. Aí os pintinho, nascendo, com dez dias, depois deles nascido, bota à venda. Vende tudinho. Mas eu tenho que arrumar essa ferramenta. Que eu tô ficando preso, num posso sair não. Eu que fico controlando a temperatura, tirando uns tampão que tem aqui nas caixa. Tirando e botando. Tirando e botando. Que a temperatura sobe muito e depois baixa de vez. Atrapalha, num pode, se não os bichinho, quando eles se gerar dentro do ovo, antes de sair do ovo, eles morre dentro. Aí essa ferramenta é pra controlar. Deita os ovo tudinho e, quando sair, que tiver trinta-quarenta, leva pra vender naqueles cara que vende alimento pra animal, petshop, né? Eles compra pra ir vendendo, na unidade, dentro das loja deles. Já tem gente que quer tudo que eu fizer! Agora eu tô com esse problema, por causa dessa ferramenta que precisa, o termostato. Aqui eu já procurei, procurei... Fui na loja lá, na João Velho, e o cara me mostrou um. Mas, quando falou o preço, eu disse, meu Deus do céu, quero isso nada! Duzento e cinquenta real! Esse termostato que eu preciso, se, muito for, é cinquenta real. Mas o cara mostrou um lá, deu o preço de duzento e cinquenta real, eu digo, eu num tô doido!


– Mas vou continuar procurando. Que eu tenho que encontrar isso, rapaz. Se descontrolar a temperatura, os bichinho, antes de chegar o dia de nascer, eles morre dentro do ovo. Eu perdi um bocado, rapaz, por causa dessa temperatura. Eu controlo com aqueles termômetros de farmácia. Aí a temperatura é 37.5 °C até 37.8 °C, nem pode aumentar muito disso, nem também pode baixar demais, sabe? Desse jeito aí, eu tenho que ficar em casa. Dia e noite. Tem que acordar de madrugada de instante em instante pra tá olhando isso. Eu vou é endoidar com esse negócio. Agora, se eu arrumar o termostato, pronto! Liga ele e quando a temperatura aumenta, ele apaga a luz até voltar na temperatura certa. Quando voltar, ela vai e acende de novo, por ela mesma. É automática! É digital, sabe! Tem também outras ferramenta, pra ser profissional. Mas isso eu vou aprendendo. E dá dinheiro, rapaz! O negócio dá certo, visse! É assim mermo, eu vou lutando... Oa, já nasceu três pintinho aqui. Daqui pra amanhã, de manhãzinha, vai nascer um bocado. Já tem um deitado, dormindo no cantinho. Tão nascendo, tá começando a nascer agora, até amanhecer o dia, vai nascer um bocado.


– Pra arrumar os ovo, procuro as pessoa que eu conheço, nos sítio aqui perto. Eu pergunto se tem ovo e eles guarda pra mim. Eu vou juntando, juntando. Compro dez a um, dez a outro. É barato, é barato. Eu vou juntando, vou conservando da maneira que tão me ensinando. Depois, quando juntar o tanto certo de botar na chocadeira, eu boto. Eu só tô com esse problema da temperatura. Depois que eu arrumar esse termostato, as coisa vão. Nasceu uns oito, já! Ainda vai nascer mais um bocado!


 – Óia, rapaz, é uma dificuldade pra nascer... Ele vai saindo do ovo e é uma dificuldade pra quebrar a casca. Eu tenho que tá olhando, que os outros pintinho fica perturbando. Já tem um bocado. Tem preto, louro, punk, do pescoço pelado. Tem um trincando o ovo aqui. Um não, tem três. Agora os que já tão esperto, com quase um dia de nascido, são perturbador, rapaz! Eles chega perto dos que tão nascendo e começa beliscando. Já nasce perturbando! Mas é bonitinho, os danado! O que tá trincando, daqui a pouco, nasce, sai do ovo. Tem um aqui que tá quase terminando de nascer. É um sacrifício pra sair. Mas, daqui a pouco, ele tá perturbando também.


– Tão se criando. Os que nasce, tão se criando. Agora, a dificuldade, é a falta daquele negócio lá, o termostato. Tô tendo que ficar acordado de madrugada, pra tocaiar eles nascer. Eu tô com uma chocagem... Chocagem? É choco, chocada, chocagem mermo. Tô com uma chocagem aqui, terminando agora, vai saindo o último. Quando for amanhã, de madrugada, tem que tá de olho, que vai ter outra. Aí tenho que ficar de olho, ficar tocaiando. Por causa da falta dessa ferramenta. Mas, amanhã, eu vou no Centro da cidade procurar saber, onde é que vende, esse troço aí. Umas hora dessa, ao invés de eu tá dormindo, tenho que ficar atocaiando os pintinho nascer. Mas é bonito. É bonito, visse? Eu gosto! Eu gosto, dessas coisa. É bonitinho, os danado! Dessa última chocagem, tem um punk, um não, a maioria é tudo punk, do pescoço pelado.


– A última noite, eu vim pegar no sono, era quatro hora da manhã. Nasceu tudinho. Só falta, agora, os de sábado. Sábado ou domingo. É a última chocadeira. Dessa outra, nasceu tudinho. Eu acertei na temperatura, mermo sem o termostato. Nasceu um, dois... treze. Já tão até comendo os farelo de milho.

 

*

 

– Eu nem te falei, óia. Depois de um mês, de teu pai com as chocadeira, usando aquele monte de luz, nas caixa de isopor, vê na hora pegar fogo em tudo, chegou o papel da conta de luz. Noventa e oito reais. Tava as chocadeira ligada, direto, vinte e quatro hora no ar... Quando teu pai viu a conta, surtou! Pegou o cabo de vassoura, quebrou as chocadeira tudinho. Jogou fora. Mas a conta ficou. Eu disse a ele, vai lá criatura, na Celpe, pra ver se a conta num tá errada. Ele disse, vou não, que eu olhei o medidor e tá certo. Aí ele num foi. A gente deu um jeito de pagar e quando foi ontem, a Celpe foi lá trocar o medidor. Disseram que tava velho, podia explodir. Mas eu disse a teu pai, num é isso, não. É que eles viram que aumentou demais, o consumo, e ninguém foi reclamar, o que é que acontece? Eles pensaram que tinha algum gato, algum macaco de luz. Aí agora vai esperar chegar o novo consumo, no medidor novo.


– Acho que ele quebrou tudo porque ficou nervoso. Viu que não tinha futuro. Mas os pintinho tão no quintal. Ele tá criando. Tem um bocado de pintinho. Ele agora tá inventando outra coisa. Tá fazendo uns tamboretinho, pequeno. Bem bonitinho. Ele começou a fazer e já tem dois, quase pronto. Ele disse que os pinto ficou muito caro e não deu certo. E demora muito. E que vai tentar os tamborete, pra ver.

 

Mensagem de Áudio. Novembro, 2021.

 




Anthony Almeida é professor e cronista. Nasceu em Caruaru/PE e reside em Presidente Venceslau/SP, onde leciona. Pesquisa a Geografia Literária, escreve e estuda a crônica brasileira. Atualmente é cronista do Jornal Tribuna Livre e da Revista Mirada. É doutorando em Geografia, pela UFPE, editor adjunto da RUBEM – Revista da Crônica, e colecionador de cartões-postais. Contato: anthonypaalmeida@gmail.com