Foto: Daniel Beltra/Greenpeace |
A parábola do "cachorro-quente"
desmascara visões e conceitos deturpados. Consta que um vendedor conseguiu
pagar a universidade de seu filho com suas três carrocinhas de cachorro-quente.
O filho, já formado em Economia, alertou seu pai que o país estava em crise e
sugeriu a venda de uma das carrocinhas. O velho pai acreditando na sabedoria do
filho, seguiu o conselho.
Passados alguns meses, o filho sugeriu a venda
de outra das carrocinhas, pois a crise seguia em vigor. Quando percebeu, o pai
não tinha mais nada.
Lembrei de um conto de Liev Tolstói, autor do
romance histórico Guerra e Paz, chamado "De quanta Terra precisa um
homem", quando ele destrói a ganância ao lembrar a Epístola de São
João III: "quem possuir bens deste mundo e ver seu irmão em necessidade
e fechar o coração para ele, como pode estar nele o amor de Deus? Não andemos
com palavras nem com a língua, mas com atos e verdades".
"Deixem-no
morrer, /Não lhe deem água, /Que ele é preguiçoso/E não planta nada/Eu que
plantei tudo/E não tenho nada .... cantava Geraldo Vandré enquanto era
perseguido pela cúpula militar e política.
Terras.
Terras.
Por ela, nações lutam contra nações, irmãos criam discórdias e vizinhos brigam entre si. E analisando por outro viés, Tolstói questiona a quantidade de terra que o ser humano precisa.
Terras.
Terras.
Todos pensam no “quanto mais melhor”, achando
que a felicidade se reside nesses, nesses...latifúndios assassinos.
O Bhagavad-gitã prega que nossa autorrealização
traz caminhadas felizes, pois ela está "apropriamente situada".
Ela não
prioriza as terras e revela o tempo perdido com ações equivocadas e externas:
quando não percebemos o quanto de tempo perdemos com preferências errôneas.
Alguns querem carros, outros latifúndios e somente quando chegam lá, percebem o tempo perdido.
Terras.
Terras.
Quando
vão entender qual é a parte que lhes cabe nesse latifúndio? Não estamos jogando
futebol americano, lutando por terras ou jardas. Enquanto a ganância sobrepor,
seguiremos caminhos mortais. A insatisfação humana quebra a sensatez, pois
sempre queremos o que não temos.
Se não tenho terras, um pequeno terreno já é o
suficiente, se tenho um, quem sabe dois ou três não seria melhor, ou ainda, dez
hectares, não, não, três fazendas...
Para chegar ao topo, passo por cima do que for
necessário, quero meu latifúndio...assassino.
E assim, vale tudo, injustiças se sucedem, e
eu que plantei muito e não tenho nada.
Não entendo o furor da cobiça, que piora com
fatos que não compreendemos e que trazem processos assustadores.
E o
pavor das lutas por latifúndios recrudesce quando vejo luzes azuis subindo na
noite escura e luzes verdes descendo.
Quando
o miserável ainda tem seu anel de noivado, vê que logo a penhora vai levar sua
relíquia. E ainda assiste seu pequeno terreno ser cobiçado pelo capital
desenfreado. Certo, faz parte do capital, mas que pelo menos paguem o valor
correto, não explorem o necessitado.
Foi
assim que Jesse James vingou sua família da usurpação bancária no velho Oeste.
Mas o que irrita é ouvir do capitalismo selvagem a palavra competência, ou
melhor, incompetência.
Eles
adoram o conceito. Para justificar suas arbitrariedades, o termo cai como uma
luva.
E temos
que ouvir a namoradinha do Brasil dizer que os incompetentes não merecem o zelo
financeiro, ela que recebe aposentadorias e pensões ilícitas. Que beleza. E reivindica
o dia da "consciência branca". Qualquer hora vai sugerir o dia da
namoradinha do Brasil.
Enquanto
isso os latifúndios dos miseráveis que estão a sete palmos do chão veem os
latifúndios assassinos passando a boiada. E enquanto no Velho Oeste, os
massacres do general Custer aniquilou os pele vermelhas, no Brasil de 2022, o
presidente glorifica um assassino dizendo que "foi o que faltou ao Brasil".
Mas agora estão felizes, a boiada ultrapassou
limites fazendo a festa dos latifúndios assassinos.
Coisas
de "heróis e mitos".
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui