por Anthony Almeida__
Na beirada do São João, há novecentos e quinze dias, debandei de
Pernambuco para São Paulo. Saí de Caruaru sem ver as fogueiras, sem comer milho
assado na brasa – mesmo preferindo o cozido, que também não comi – e sem ralar
o bucho noutro bucho, na véspera, e na data, do santo padroeiro das festanças
do forró.
Passou-se o São João, São Pedro, Santo Antônio – do outro ano –, mais um
São João, mais um São Pedro – e mais um ano –, outro Santo Antônio, outro São
João, outro São Pedro, novecentos e quinze dias e eu longe. Tão longe e tão
longe que nem fogueira eu fiz.
Agora tô voltando. Viagem curta. Vai e vem só para ver mamãe, papai –
não digo painho e mainha – e romper o ano. Depois, passar uns diazinhos de
janeiro. Um pé lá, outro cá. Dezembro. Janeiro. Nem tem Santo Antônio, nem
festança de forró, nem São João, nem rala bucho, nem São Pedro, nem milho
assado ou cozido...
Mas tem fogueira. No meu coração tem fogueira. É só começar a pensar em
voltar e ela queima. Não vejo a hora do seu fogo, logo de uma vez, acender e
arder e incendiar minha saudade.
Já estou contando: novecentos e dez, onze, doze, treze, catorze, quinze,
dezesseis... Opa! Dezesseis não, um.
Presidente
Venceslau e Caruaru. Dezembro e janeiro, 2018 e 2019.
Anthony Almeida é professor e cronista. Nasceu em Caruaru/PE e reside em Presidente Venceslau/SP, onde leciona. Pesquisa a Geografia Literária, escreve e estuda a crônica brasileira. Atualmente é cronista do Jornal Tribuna Livre e da Revista Mirada. É doutorando em Geografia, pela UFPE, editor adjunto da RUBEM – Revista da Crônica, e colecionador de cartões-postais. Contato: anthonypaalmeida@gmail.com