por Valdocir Trevisan__
Quando
Bell Hooks (uma seguidora me alertou que ela assinava com letras minúsculas,
porém esse detalhe não é relevante aqui), convidou Cornel West, um professor de
Princeton para uma palestra com a temática "descentralizar a civilização
ocidental" ficou evidente a dificuldade do corpo docente de assimilar
novos ensinos.
Inclusive de professores que desejavam tais rupturas. A tradição e o conservadorismo não são dogmas fáceis de serem superados, apesar de iniciativa de "ir além", estimulando controvérsias e debates educacionais ou racistas.
Porém, Bell percebeu que a luta seria árdua
com muitos obstáculos quando disse que "havíamos percebido o quanto o
corpo docente precisa desaprender o racismo para aprender sobre a colonização e
a descolonização e compreender plenamente a necessidade de criar uma
experiência democrática de aprendizado das artes liberais".
As guerras culturais se revelam na busca de
poder, enquanto cada setor, cada segmento ou ideologia quer sua parte nesse
latifúndio.
E a cultura que deveria ser primordial, fica
restrita aos subsolos.
Não sabem que a cultura e a educação fazem
parte do espetáculo com presença no pelotão de frente nas mudanças sociais?
Não, não sabem.
Basta
ver nosso cotidiano, com ministros da Educação dizendo que não entendem por que
o brasileiro é obcecado por universidades.
Enquanto vivemos conflitos estruturais e ideológicos (ideológicos?) em
nosso ensino, o tal ministro faz negociatas com pastores evangélicos.
Fica difícil, muito difícil orientar mudanças
educacionais não é mesmo Bell Hooks?
Quero um
ensino envolvido com a cultura, uma cultura com representatividade orientando
atitudes e ações, pois nossa educação não é imóvel, não possui uma fase
definitiva. Erasmo de Roterdã escreveu há 500 anos passados que "nunca é cedo para iniciar o processo educacional".
Isso mesmo, na época das grandes navegações,
um intelectual recrudesceu a importância da cultura do ensino e, enquanto isso,
em pleno 2022, temos que conviver com um (des)governo que diminui o espaço da
sociologia e filosofia em seus currículos.
Erasmo presenciou o lado obscuro e escreveu
certa vez que "se os irmãos veem um rapaz cuja inteligência é mais
elevada e ativa do normal, a sua meta é quebrar-lhe o espírito e submetê-los a
castigos até o fazer em se encaixar na vida monástica".
Repressões
culturais sempre existiram, mas também sempre houve resistência, além da famosa
resiliência. Mesmo quando o sol, as
tempestades, o breu, e até meu amigo mar estiverem contra você, recorremos à
valorizada resiliência.
Quem
conhece o trabalho de Darcy Ribeiro, atesta as palavras de Erasmo e vê os
projetos de Ribeiro como, diríamos, sequências humanitárias e
educacionais. E claro, incluímos Bell
Hooks, Paulo Freire e dezenas de outros educadores.
A
Filosofia budista de Thich Nhat Hahn (para mim, uma novidade), requer e exige
seu espaço.
Imaginem,
o budismo inserido nos processos como uma alternativa salutar, incluindo a
filosofia oriental na grade escolar. Como Augusto Cury "sonha",
disciplinas com ênfases emocionais, uma preocupação com a psique dos alunos e
dos próprios professores.
O
budismo, independente de credo, só acrescenta no currículo escolar. Basta ler a
monja Coen ou Thich Nhat para perceber sua relevância no ensino e no
"Espírito".
O
multiculturalismo quer indivíduos e alunos ativos e Thich Nhat "sempre
compara o professor a um médico ou curador", lembra Hooks com suas
abordagens na busca de ações concretas.
Ações,
o agir, as reflexões do mundo que nos cerca, não o retrocesso de nossos
ministros, que felizmente, encerram seus ciclos malditos no fim desse ano.
Para
nossa alegria, de Freire, Thich, Hooks, Cury e da minha Coen, os horizontes
educacionais prometem novos caminhos, onde o budismo deve estar inserido na
luta para vencer o silêncio docente que ainda resiste à novos conhecimentos.
Como
Erasmo disse, as coisas mudam, não sabemos o que vem (onde está o novo
normal?), o ensino muda e evolui, apesar de retrocessos governamentais.
Novamente percebe-se a relevância da
filosofia, de qualquer linguagem filosófica, quando existem diálogos com nossos
corpos docentes. Resta menosprezar as águas paradas, visando as águas que mudam
nos mesmos rios...
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui