por Eva
Potiguara__
Foto:Ricardo Stuckert |
Nós
indígenas do nordeste em retomada, temos vivido dias difíceis há mais de 500
anos.
Os
parentes aldeados lutando pela homologação de suas terras, os não aldeados, buscando
o respeito e o reconhecimento de sua identidade ancestral, muitas vezes,
humilhados, discriminados e perseguidos, juntamente com os parentes do contexto
rural.
Neste
mês de abril, queremos lembrar que a diversidade fenótipa, está ligada não
apenas as diferenças físicas entre 304 etnias existentes no Brasil, mas há
crimes de estupros e abusos seculares sofridos por nossas mulheres,
especialmente, do nordeste brasileiro. Fomos a primeira região a ser explorada
e massacrada no início do século XVI pelos portugueses e holandeses e se nossa
gente tem cabelos enrolados, peles mais retintas, outras peles muito claras e
olhos claros, porque somos povos vítimas de usurpações criminosas. Não deixamos de ser indígena por isso, pois a
nossa identidade vai além das aparências.
Somos
indígenas de corpo e espírito, nossa corporeidade confronta-se diariamente com
o racismo estrutural, com as desigualdades sociais e as injustiças seculares
que nos sufocam e nos rotulam de pardos, negros e/ou mestiços.
Somos
indígenas! Somos filhos, netos, bisnetos, trinetos, tetras netos, de mulheres e
homens guerreiros que suportaram e enfrentaram muitas aflições para suas raízes
vingassem até esse século XXI.
Portanto,
respeite a nossa diversidade, porque assim estará respeitando nossos ancestrais
e as nossas memórias.
Sobretudo,
estará dando um basta na opressão que sofremos até hoje.
Então,
nos respeitem!
Parem
de nos matar!
Chega
de etnocídio!
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Ser
Indígena
Ser
indígena não é folclore
É honrar
os ancestrais
Retornar
à Terra Mãe
Como
sementes essenciais
Renascer
todas as manhãs
Como o
sol nos milharais
É
recriar o amor à vida
Em
novas leis matriarcais
Sou
indígena além do tempo
Meu
presente está no passado
Meu
passado está no presente
Em cada
ciclo vital sagrado
No
fogo, na pedra, fruto e mar
Em cada
irmão encantado
Meu
futuro jaz na memória
Do meu
povo Tupi amado
Não
luto por dinheiro e fama
Não sou
indígena por tradição
Tenho
no sangue as memórias
Das
dores e crimes da invasão
Pelas
florestas que agonizam
Pela
justiça da demarcação
Enfrento
o algoz patriarcado
Exijo a
descolonização
Eva Potiguara - Indígena Potiguara do RN, Produtora cultural da EP Produções. Escritora e poeta, Arte Educadora, Doutora em Educação pela UFRN, membro da UBE/RN, SPVA/RN, ALAMP, membro imortal da Academia de Letras e Artes do Brasil, da Seccional Campos de Goitacazes/RJ, membro do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa/Portugal - NALAP, membro da Acádemie Luminescence de Letras, Artes e Ciência da França. Atua na área de formação de professores de Pedagogia, como professora de Artes. Suas principais publicações solos na poesia, na prosa e no audiovisual, expressam o empoderamento da mulher, o amor à Mãe Terra, as resistências dos povos indígenas do RN e se estende a todo o Território Brasileiro. Instagram: @evapotiguara