por Lau Siqueira__
TAPERA
O
tempo é uma casa
desabitada e esquecida
no meio da estrada.
Quem passou por ela
e viu apenas uma
casa, na verdade não
viu nada.
SERTÂNICA
metade era
soco
outra metade
sopro
e tudo era tanto
pro meu coração
tão pouco
TEOREMA
tudo passa
tudo sai de cena
gente bicho tema
nem sempre é eterno
o que cabe no poema
às vezes é só
uma sede extrema
TRAVESSIA
Quando soltei
os camelos, já não
havia deserto.
Nenhuma manhã
nascendo.
Nenhuma Lua
por perto.
ESPELHO D’ÁGUA
Como se estivesse apagando
um texto inteiro. Empurrando
letra por letra para o abismo.
Assim percorro a memória
da minha pele.
Deletando uma verdade
imponderável. Segredos
na sede da alma.
Sem algemas.
Teu nome agora
é Poema.
Aprendi na força
da Ayahuasca.
É de dentro que o solo
irrompe ou se dissolve.
No mais,
a vida é maneira.
Até a Lua mostra-se inteira
e depois vai minguando
nas sombras...
O que demora para partir
nunca volta. O tempo
é agora.
(...)
Hoje aguei as flores.
Flores tristes em terra
de artifícios.
Tanta água.
Vida doce.
Sede absurda.