Cinco poemas de Lau Siqueira

 por Lau Siqueira__

 







TAPERA


O tempo é uma casa
desabitada e esquecida
no meio da estrada.

Quem passou por ela
e viu apenas uma
casa, na verdade não

viu nada.



SERTÂNICA


metade era
soco

outra metade
sopro

e tudo era tanto
pro meu coração
tão pouco

 

 

TEOREMA


tudo passa
tudo sai de cena

gente bicho tema

nem sempre é eterno
o que cabe no poema

às vezes é só
uma sede extrema



TRAVESSIA


Quando soltei
os camelos, já não
havia deserto.

Nenhuma manhã
nascendo.

Nenhuma Lua
por perto.

 

 

ESPELHO D’ÁGUA

 

Como se estivesse apagando

um texto inteiro. Empurrando

letra por letra para o abismo.

 

Assim percorro a memória

da minha pele.

 

Deletando uma verdade

imponderável. Segredos

na sede da alma.

 

Sem algemas.

 

Teu nome agora

é Poema.

Aprendi na força
da Ayahuasca.

É de dentro que o solo

irrompe ou se dissolve.


No mais,

a vida é maneira.

 

Até a Lua mostra-se inteira

e depois vai minguando

nas sombras...

O que demora para partir

nunca volta. O tempo

é agora.

(...)

Hoje aguei as flores.

Flores tristes em terra

de artifícios.

Tanta água.

Vida doce.
Sede absurda.

 

 

 

 

 

 

 

 


Lau Siqueira nasceu em 1957 e é natural de Jaguarão-RS. Reside na Paraíba desde 1985 e já publicou dez livros de poemas. Participou de diversas antologias, entre elas, “Na virada do século – poesia de invenção no Brasil”, organizada por Frederico Barbosa e Cláudio Daniel. Na argentina participou na antologia bilíngue, “Bicho de Siete Cabezas”, organizada por Martin Palacio Gamboa; em Moçambique, participou da antologia de poetas de Língua Portuguesa, “Arqueologia da Palavra e Anatomia da Língua”, organizada por Amosse Mucavelle. Atualmente escreve para as revistas Mallarmargens – Literatura e Arte e Crônicas Cariocas.