por Taciana Oliveira___
JR Korpa |
*UM
CARTÃO DE VISITA
Moro
tão longe, que as serpentes
morrem
no meio do caminho.
Moro
bem longe: quem me alcança
para
sempre me alcançará.
Não há
estradas coletivas
com
seus vetores, suas setas
indicando
o lugar perdido
onde
meu sonho se instalou.
Há tão
somente o mesmo túnel
de
brasas que antes percorri,
e que à
medida que avançava
foi-se
fechando atrás de mim.
É
preciso ser companheiro
do
Tempo e mergulhar na Terra,
e
segurar a minha mão
e não ter
medo de perder.
Nada
será fácil: as escadas
não
serão o fim da viagem:
mas
darão o duro direito
de,
subindo-as, permanecermos.
Do livro "Poemas anteriores" (1989) que você encontra na "Poesia completa", Ed. Record, 2018, p. 115.
*PUBLICAÇÃO
DO CORPO
Quando
distanciar-me das altas
nuvens,
onde sempre habitei,
devo
levar algumas delas
para
que saibam minha pátria.
Após
soltar de espaço a espaço
as
cascas vivas da memória,
devo
levar para a cidade
o
corpo, esta palavra forte.
Só meu
corpo vai realmente
pisar
nos jardins e nos pátios
e com
mãos novas sacudir
as
grandes árvores por perto.
Vou
conduzi-lo com o cuidado
de
livro muito alvo na tarde:
É minha
única esperança
de
estar bem vivo entre vocês.
Só meu
corpo sabe virar
todas
as páginas do tempo
e só
ele foi publicado
completo, para ser seguido.
"Poesia
completa". Editora Record, 2017, p. 43
Alberto da Cunha Melo - poeta, jornalista, sociólogo, nasceu em Jaboatão, Pernambuco, em 8 de abril 1942 e morreu no Recife, em 13 de outubro de 2007. Visitem o site do autor: clica aqui
Taciana Oliveira – Editora das revistas Laudelinas e Mirada e do Selo Editorial Mirada. Cineasta e comunicóloga. Na vitrolinha não cansa de ouvir os versos de Patti Smith: I'm dancing barefoot heading for a spin. Some strange music draws me in…