Fragmentos de 8 Marços | Leo Barth

 por Leo Barth__


Jr Korpa




Certo dia, encontrei um velho sem língua que trazia um bilhete amarrado ao pescoço. Na linha inicial assinava "um diabo" como autor destes três poemas.

 

 

 

a

 

 

Canções repetidas de mês solar último

Árvore morta de quintal

O despejo de uma quinta-feira

Revisitadas ruínas azuis modificadas

Em sonho de uma baixa América

 

Canções repetidas de mês solar último

Acordes extasiados

O problema do aço que não modela

Repartido em pedaços violentos

Em desejo desgarrado

 

Canções repetidas de mês solar último

Um cavalo que brilha refletindo elementos

Faminto de ventos e glórias invertidas

Debatendo-se em agonia de flechas

Que ressoam abate

 

Canções repetidas de mês solar último

Uma tenda; uma necromante sensual

Que afirma coisas do próprio abismo

Contra o tijolo cósmico tautológico

 

Canções repetidas de mês solar último

Um homem que afunda em areia

Regurgitando solidão

Sabendo que tudo que era sólido

Mereceu dignidade de explodir livremente silencioso

 

Canções repetidas de mês solar único

Tantas eras mudo desaprendi a falar

Lendo meus próprios lábios famintos

Em segredos e mistérios

Da pinça de uma abelha dourada

Que repousa em mãos queimadas

De pés abandonados

 

 

……

 

b /2/

 

Areia-veneno e flor-férrea

Duas túnicas de cores opostas

Duas forças que se anulam

Amuam

E os últimos beijos comem

Os primeiros afagos

Dois rasgos em portas opostas

A primeira de laços

A última de acusações

A fada dos lagos

O demônio do poente

Ventos de abril

Transmutados em calores de dezembro

Eu, errante de tendas

Tu, sorriso de concreto fixado

 

 

…..

 

/3/

 

Vitral

 

 

Eu era um garoto nos dia de março

Importava-me tudo que saia dos teus lábios

As cordas e as flautas do fundo da tua voz

As cartadas e fomes

O conforto do teu peito intenso

Em meus excessos

 

A paixão corroeu todos os grãos de areia

Cada quina de cabelos

E as foices para dias ruins

Eu sendo teu leito nobre

Tu posta como pássaro errante

Abraçando em prazer todos os sóis possíveis navegantes

Multiplicando azuis de desgraça

Em boa-nova de vergonha e cansaço

 

Eu, tua mão aflita

Tu, minha mentira enraizada

Grandes poços de mentiras

Rasgos de guilhotina

Cacos de vidros

Para todo sangue

 

 


Leo Barth, nasceu em 1984. Delmirense dividido entre sertões e capital do caos. Começou a escrever por causa da Teologia. “Homem que nasceu morto, e que se acha em cada esquina, poeta de bêbados e esquizofrênicos, delimitado pelo caos particular, e autor de nada”. É notável entre os novos poetas trágicos-febris, um dos nossos maiores poeta do underground alagoano. Tem uma filosofia existencial-literária parecida com o grande Macedônio Fernandez, que escrevia compulsivamente sem muito importar-se com publicações. Boêmio, Machadiano e acadêmico, o autor possui centenas de poemas inéditos, produzindo-os desde 2001. É co-fundador do grupo “Arborosa”, de poesia, arte visual e fotografia, e editor do staff da Edições Parresia. Publicou na Utsanga (Itália) revista de poesia experimental, e em revistas brasileiras.