por Valdocir Trevisan__
Foto: Yomex Owo |
O
pêndulo de Bauman já desafiava preferências, e se a segurança perdia pontos
para a liberdade, agora tornou-se primordial. Melhor caminhar seguro do que
andar com as incertezas pós-modernas.
Será?
Difícil chegar a conclusões, evidente que todos querem viver com segurança,
porém ela pode afastar mudanças que tanto desejamos.
Aquela
história do que 2+2=4 pode significar nossa morte, aquela "hipótese"
que 2+2=4 está comprovado.
Para o infeliz pode ser, pois quero o 2+2=5. Quero o impossível mas calcado na esfera moderadora de Epicuro. É muita pretensão, o que você quer moço?
Caminhar no gelo sem escorregar?
Quer escorregar, mas também quer o atrito para seguir adiante? Ludwig Wittgeinstein agradecia o gelo escorregadio, pois ele propiciava tropeços salutares e ao mesmo tempo almejava o atrito, voltando a terra firme afastando conflitos.
Que
dilema. Não quero escorregar como uma vaca atolada, também não desejo ficar
estático, quer o 2+2=5 com firmeza. 2+2=5 com firmeza? Como?
Não
sei, mas visualizo possibilidades e concordo com o maluco beleza Raul Seixas
que dizia "não sei onde tô indo mas sei que estou no meu caminho".
Taí,
Raulzito sabia das coisas. A verdade é que o atrito pode ser desnecessário, mas
não posso esquecer que ele (o atrito), vai segurar a barra muitas vezes.
Esse cronista
está de sacanagem! Define de uma vez o quer e encerra esse papo para lá de
Bagdá. Ou de Bagé.
Se não sabe o que quer, vá se tratar...
Eis aí amigos e amigas os paradoxos da
velocidade pós-moderna, desespero que faz as pessoas correrem para não sei
onde.
Rápido,
vamos...Vamos...Onde? Não sei, só sei que quero paz no meu coração, com ou sem
atrito, pois se já tive pressa, agora quero ver as pedras rolando e tempo para
conversar com vizinhos.
Quero
isso mesmo, ver as pedras rolando, as pedras do caminho e conversar com elas.
Para isso, tenho que parar e na próxima vez que estiver na estrada, pare seu
carro, assim, de repente, em qualquer lugar, mas neste caso, com segurança.
Fique 10 minutos parado na estrada e você vai ver.
Você
vai ver pedras que nunca viu. Paisagens e cheiros que nunca reparou, mesmo
tendo passado pelo local dezenas de vezes.
Você
vai ver.
E
sentir.
Quando
criança minha família viajava para a praia em dois carros.
Faz
tempo, muito tempo.
Fazia
muito calor e há 50 anos carros com ar-condicionado eram raridades. Alguém deu
a ideia de parar em qualquer lugar. Um tio foi no restaurante mais próximo
comprar 50 pastéis, sanduíches, refrigerantes e improvisamos um piquenique
inesquecível.
Há 50
anos.
E até
hoje quando passo no local, onde não tem nada, lembro do momento.
Queríamos
atrito...ou não.
Hoje
percebo que atritos são necessários e desnecessários.
Mas
cuidado para não confundir, estou falando de atrito para não escorregar no
gelo, não quero brigas, atritos.
Adoro a frase do filme O Resgate do Soldado Ryan: "faça valer a pena".
Com ou sem atritos...
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui