Cinco poemas de Caio Bulla

 por Caio Bulla__





meu silêncio me denuncia

 

serei muito tempo

mas meu tempo já se foi

o grito que não dei hoje

a força da minha falta

matou tanto ontem

tanto antes

quanto sempre

 

é preciso

cortar a carne

como é respirar

fundo

atingir órgãos vitais

sangrar para

parar de sangrar


 

atenção: escada sem degraus - subir obrigatório

 

meus filhos têm fome

eu, a dor de não ter

 

entrego a eles mundo em chamas

e espero que o segurem

antes de comer


 

______


a cidade

labirinto de migalhas

não há saída, só consolo

promoções mensais

enfeites de Natal

 

o labirinto para

o labirinto é para

mas nunca do preso

 

as mesmas letras escritas

por outras mãos

são palavras diferentes

na cidade tem calo, sangue

e calo diante do sangue

 

as paredes da cidade são feitas

pelo lado de dentro

mas pagas pelo lado de fora

todas as cidades são planejadas

até as que não são

 

a cidade é meio

não solução

e tem polução noturna

com o cidadão


 ____


ipê florido em pleno julho  

e se deixasse este deserto agudo? 

ipê mudo impondo o colorido 

e se não fosse tanto barulho? 

 

ipê morresse preso na própria finitude? 

e se a primavera é liberdade  

ipê por maldade estivesse indefeso? 

e se tão boa é sua plenitude 

 

ipê profano desejando beleza 

e se tão belo que tirano? 

ipê humano 

e se natureza?


______

 

às vezes você me chacoalha 

com palavras de oito graus na escala Richter 

aquelas, cheias de tremas implícitas 

trema, trema, trema 

e eu não me agüento com essa trema

        e

    s

  t

       r

  e

m

      e                                                                r

  ç                              e                                                 

    o                 d                                   o

                                             s                                 o

                                                   m                                             n       o

 




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Caio Bulla -
Graduado em Direito, é servidor público na cidade de Palmas. Seu livro de estreia, “afiado, asfixiado, aficionado” está em pré-venda pela Editora Folheando. Tem poemas publicados no blog Poesia na Alma.