por Wellington Amâncio da Silva___
Jr Korpa |
Por ser homem, não me sinto o autor ideal
para narrar esta história. Tenho medo de ser mal interpretado como machista,
malvado ou pretensioso. Me lembro de muitos detalhes, mas alguns não posso
contar. Quanto mais envelheço me torno mais reconheço que esta deva ser
relatada. Há décadas eu não consigo me libertar do que ouvi. Eu preciso dividir
esta cruz com os leitores. De iniciou, informo que éramos adolescentes, eu e
minha irmã, e estávamos escondidos, ouvindo os adultos conversarem. Aquilo nos
marcou. Transformei em conto, me perdoe a falsificação do formato. Não queria narrar
objetivamente, como um relato jornalístico, visto que esta história faz parte
das minhas dores, dos meus traumas velhos, me pertence. Jamais a lançarei fora.
Eu tento imaginar como ela viveu, tento falar na voz dela,
assumir as suas dores, buscar uma empatia que nós homens ainda hoje quase não
temos. Se ao final você concluir que eu
não a contei com o devido respeito, com a devida reverência, me perdoe. Eu somente
preciso dividir esta cruz com os leitores. Por ser homem, inocente ou não, sei
que estou condenado a fazer parte do “velho legado machista”, nenhum homem hoje
pode escapar.
Sertão de Alagoas, final da década
de 60. Ainda o macho com o poder quase absoluto, embora como medo da mulher,
que nunca pode dominar, por isso o ódio. E a atadura era peso
pequeno sobre a pele ferida, a compensadura do descarne. Onde a mosca pouca
inflama e fede. Comer às minhas custas, e depois eu não queria eu mesma pagar o
preço da desforra, diante do sorriso do parasito. O ferimento, um sinal
incontornável, nunca do acaso, marca a pele —
somente quem sentiu sabe o porquê. Para além da mosca que me olha, sou bela,
não quero marcas sobre a pele. Eu quero o que dinheiro não paga. Eu, meus
irmãos e meus pais morávamos em casa humilde, ao lado de gente humilde. E as
casas de pau a pique eram um descastelo, e ali eu mesma habitaria, até sobrevir
o pior, o que atadura não pode esconder.
Meu coração estava fraco, mas não contaminado;
meus olhos meio cansados, mas, eu ainda enxergava o meu algoz, naquele ano de
1969. Ainda em março, apaixonei-me por José Pereira. Pensava nele em todo o
tempo, na cadeira de balanço vermelha do meu pai, o velho Raimundo Vinalinni. Eu pensava em não sei o quê, na cozinha,
cortando verduras, enquanto minha mãe, Josélia Vinalinni, me observava. Meus irmãos eram, Victor e
Emanuel Vinalinni, e também notaram algo em mim — era a paixão, o descontrole
geral. Naquela casa, todos me observavam, exceto uns meninos, meus sobrinhos
pequenos, que se distraiam no quintal com as demasias da inocência.
Ninguém sabia a medida do que eu sentia por José Pereira, moço instruído,
educado, filho do doutor Francisco, e eu, dada ainda aos sonhos e às novelas,
não notei que naquele tempo um rico não se juntava a pobre.
Meu pai trabalhava muito, por isso era muito
introspectivo, muito fechado e severo no pensar e no agir; ali na sala, em sua
cadeira de balanço, ele cochilava; respirava longamente, emitindo um chiado de
vento noturno e pulmonar. Era um homem um tanto ignorante, mas justo, muito
justo, de modo que não haveria de faltar pão sobre a mesa, e chicote sobre o
lombo, se vacilássemos desviando-nos das regras contidas em seus raros aconselhamentos.
Minha mãe era um tanto submissa, na medida do “enquanto tudo estiver em
ordem...”; era mulher silenciosa e conivente com o marido: criou todos os seis
filhos, devidamente, de maneira que exceto a mim, todos estavam bem casados e
relativamente prósperos, segundo a disposição daquele lugar de pobrezas e
desajustes. E ocorreu-me um fato incomum sobre a normalidade do meu cotidiano, que
conheci o José Pereira, aos meus dezesseis anos de idade — não trabalhava ele
quando na ocasião, mas tinha estudo, possuía o segundo grau completo: meu pai
não gostava dele o suficiente para me sentir tranquila, e minha mãe desconfiava
tanto e demais dele (por meio de um pressentimento difuso e de sonhos
estranhos, e ainda, de obscuras informações) que nem queria recebe-lo em casa,
e por causa disso, evitei a todo custo me apegar ao rapaz, mas em vão, você
sabe disso, porque quanto mais se evita um veneno, mas se encontra dele em todo
lugar; e foi assim que eu passei a ver o rosto e o sorriso de José Pereira em
quase tudo que eu olhava.
Nos finais de semana, entre os dias propícios e
os dias em que nos arriscamos, nascia a flor da indiferença — quem quer saber
de engajar-se a causa do dia a não ser o próprio Sol em nossas queimaduras? Ninguém
mais! Parecido a lei da oferta e da procura, eu me ofertei um pouco mais, sendo
zelosa e prestativa — como ensinara-me a minha mãe — e ele me baixou de preço,
o covarde, iniciando-se o tempo do desprezo. Por isso eu possuía uma dessas
ataduras cor de pele, adesivada sobre minha coxa esquerda e sobre meu nome. É
preciso agora que se saiba que me chamo Eva. Minha cidade é Propriá, de
Sergipe. Sou nascida e quase criada por lá, e de lá pouco me ausentei. No
tablado eu encenava o que outrora assisti, a verossimilhança da vida como farsa,
nos tons opacos de vida de mulher interiorana, você sabe o que estou falando.
Minha última patroa, Dona Antuza, até que possui boa humanidade — mas somente
enquanto não se tratar de dinheiro... Embaralhei tudo agora, contando história
fora de tempo, meu Deus! Preciso rearranjar-me por dentro, acho que por muito
tempo. O espírito chora, mas ninguém vê, ainda bem.
Conheci José Pereira, aos meus dezoito anos de
idade, e em poucos meses ajuizei-me de que ele era o homem da minha vida, se
isso existe no mundo. Eu era uma estudante concluindo o Magistério e ele me
observando pela janela da sala de aula. Nunca antes beijei ninguém. Conversador
e envolvente, me fazia rir e me sentir bem. D cavalheiro que me queria por
perto, desinteressadamente, se tonou um rapaz que usava as mãos e as palavras
em demasia, de modo que não resisti: dei-lhe tudo no primeiro ano de namoro, e
por quase sete meses vivíamos como um casal feliz, sim, dentro daquela
“felicidade oscilante e tensa”, de quem escolhe e se recolhe um segredo. Mas,
do mesmo modo porque passa uma nuvem, e a sombra veste os montes e vai e passa,
ele também chegou, no começo, como um auspício feliz e foi-se de repente para
São Paulo, se justificando: “Vou para assumir um emprego, em seguida volto para
casar, e te levo pra lá”. Mas que nada! respondeu uma ou duas cartas e sumiu-se
de vez. Francamente, por muitos meses esperei vê-lo voltar por aquela estrada,
em frente à minha antiga casa, sob as dores de grande ansiedade, saudade e
angústia. Acho cafona aludir às lágrimas, todavia chorei, e muito e por longo
tempo, e eu não sabia o que dizer aos meus pais, devido a minha cara triste e
perda de peso. Me veio o pior. Sem a presença cotidiana de José Pereira, meu
pai percebendo meu semblante obscurecido por causa conhecida dele; me fez
perguntas, me encarou bastante e se ausentou. Em seguida, minha mãe chegou-se
até mim, chorosa, preocupada, as mãos tremiam, eu vi. Horas depois, escutei do
meu quarto, meus irmãos e meu pai debaterem sobre alguma coisa que não entendi bem.
Fui expulsa do meu lar, debaixo de palavras que
sou incapaz de dizê-las. Fui expulsa do meu lar, quase uma semana após àquela
conversa entre meus irmãos e meu pai. Saí vestida de azul, num vestido que fora
da minha mãe. Um espelho miúdo, um livro, brincos velhos, duas roupas, lençol,
escova, cartas, um par de sapatos e um pouco de alfazema dentro de um frasco
com tampa de cortiça, eram tudo o que eu levava naquela maleta de couro, me
lembro como hoje. Não sei explicar ao certo como saí dali, com quais tipos de
pavores dentro de mim. Ai minha estima de poeira... De caronas e de favores
viajei o mais que pude. Ao final da estrada, fui residir em casa de família,
como empregada doméstica, no município de Delmiro Gouveia, nas Alagoas.
Na casa dos Affonsecas vivi no começo uns dias honestos,
ganhando e morando pelo que fazia dignamente, embora a saudade da minha mãe e
dos meus sobrinhos dissipasse uma porção valiosa de alguma coisa boa que ainda
restava comigo. Contudo, eis que um dia, Seu Tibério de Affonseca, o pai de
família, adentrou de noite em meu quarto, em pés mansos — e confesso que, como
quem sonha e gostando do sonho, eu estava certa que deitava com meu José
Pereira — Mas não. Era mesmo o velho fedorento de boca e de suores, e assim
veio um pesadelo muito demorado. Vendo-o depois em cima de mim, eu não
acreditava, mas, era mesmo aquele velho casado, o maldito, o vampiro. E
lavei-me tanto que se engelhou meus dedos. Eu gastei todo o sabão de coco, e
não bastava: eu precisava arrancar minha pele e jogar fora, me revirar por
dentro e me salgar com sal grosso, para matar os germes do velho. Meu nojo era constante
e pungente, tal a quem descobre um carrapato cheio de sangue grudado debaixo do
peito; meu corpo doía, minha cabeça pesava, meus olhos ardiam, meu coração
vacilava por dentro, minha alma arfava de tristeza; me sobrevinha um cansaço
longo e sufocante em que minhas pernas tremiam, enquanto a podridão escorria
até o joelho. Aquele quarto estranho onde dormia ficou mais escuro, mais denso,
mais opaco, mais fedorento, mais assombrado; percebi com asco as sutilezas do
cheiro daquela cama de solteiro, dos tecidos lavados por outras mãos, das
paredes com odor de mofo; o teto velho retelhado sustentava peso de telhas que
desejam ruir. Seu Tibério de Affonseca esteve por lá outras vezes, e o filho
mais velho também, em seguida. Desta época sinto um misto de angústia,
desespero e ódio, sim, ódio de mim e do mundo e um desprezo pelas pessoas.
Na esperança de que minhas rezas surtissem
efeito, pedi muito a Deus para me tirar daquele poço fundo; tive alguma alegria,
quando neste tempo, conheci um rapaz de nome Ronaldo Delgado; ele pediu-me em
namoro; levava-me presentes tolos, mas eu os aceitava de bom grado; nos
encontrávamos geralmente depois das vinte uma horas, no portão de trás, e ali
assentávamo-nos sobre uma pedra grande de lajeiro e nos beijávamos muito, e eu
ainda lembrava-me do José Pereira. Ronaldo era carinhoso e amigo, tinhas muitas
frases e histórias românticas; contei-lhe parte da minha história, um pouco de
tudo aquilo que a vergonha permitiu; eu não disse tudo, porque para uma mulher,
sua história é sua última fortuna, seja história digna ou não. Eu queria casar
com ele, mas não sabia se ainda seria possível para mim. Mas uma vez eu estava
inteiramente apaixonada e comprometida de verdade, por isso pedi pelo amor de
Deus a Seu Tibério de Affonseca se afastasse de mim definitivamente. Eu
expliquei a ele que eu estava de compromisso com Ronaldo. Eu implorei ao Seu
Tibério que se afastasse de mim.
Ronaldo Delgado trouxe-me uma aliança e
colocou-a em meu dedo — estávamos noivos. Nunca antes me senti tão feliz.
Pensei em levá-lo a minha cidade, para conhecer meus pais. Não demorou até
chegar dizendo que alugara uma casa e que quando estivéssemos estáveis, num
lar, iria conhecer os meus pais em Propriá. Era setembro, e estávamos
preparando-nos para irmos a Pernambuco, em novembro, quando recebi um telegrama
informando a morte do meu pai. Lembro-me que reli umas dez vezes o pequeno
texto, e enquanto lia, lembrava-me vividamente e com nostalgia da minha
infância, do meu velho sempre sorrindo, chegando do trabalho com aqueles
biscoitos gostosos, levando-me de bicicleta à escola. E com a morte dele eu
também morri de alguma forma que não sei explicar e nunca saberei. Nunca pensei
que um telegrama com oito curtas palavras me pudesse destruir.
Não pude ir ao velório, não tinha dinheiro, Seu
Tibério não quis me emprestar. Não me despedi do meu amado pai — e me perturba
até hoje o fato de eu nunca mais ter a chance de pedir perdão a ele, pelo que
fiz, já que ele se sentia ofendido. Tornei-me uma pessoa constantemente triste.
Eu sofria muito com a ausência da minha família, porém, a minha dor era tamanha
quando eu imaginava o sofrimento da minha mãe pela minha ausência, naqueles
dias. Eu perdi muitas das minhas pequenas esperanças e meu espírito
enfraquecia-se a cada dia, sob um desgosto mudo, até o dia que um refrigério
imenso adentrou a minha casa. Eu engravidei. Era tudo que eu queria um dia.
Informei a minha patroa, Dona Antuza e ela não gostou da notícia. Enfrentei
depois a negativa daquela família ao me advertir que não seria possível uma
criança naquela casa, num quarto tão pequeno, lá onde eu dormia.
Nasceu
uma menina e lhe demos o nome de Maria, um anjo branquinho, minha filha amada!
Graças a Deus, com o seu nascimento parecia que Ronaldo Delgado começou a me
amar de verdade — não mais humilhava-me, ou questionava acerca do meu passado,
da virgindade e de outras coisas que “esses homens demais” levam muito em
consideração; de tanto desconfiar de mim a menina nasceu com a sua cara.
Suficiente não durou o meu sossego; bem sei que onde pululam esses tipos de
cobrança arbitrária é lá onde rodam homens inseguros e também outrora
mal-amados. No lugar em que habita essa moral — própria de certas machezas —, sobejam
todas as hipocrisias do mundo, sufocando as frágeis possibilidades de um
relacionamento familiar abençoado. Nos dois anos seguintes, éramos eu e a minha
filha, a sós, dentro daquela casinha triste.
Ronaldo Delgado foi um homem de três
personalidades: num momento, pai muito amoroso; noutro, marido muito
voluptuoso; por fim, alcoólatra muito agressivo. Por causa da sua embriaguez —
especificamente devido a sua raiva contra mim, em me acusar sempre que bebia, enciumado,
me taxando com palavras hediondas — saí de casa, deixando tudo para trás.
Estava decidida a rumar para o Sudeste, e assim
o fiz. Meu tio morava em Osasco, mas acho que ele, assim como meu pai, não me
perdoara dos infortúnios da minha juventude. Não querendo arriscar receber um
“não” do meu tio, busquei sobrevier sozinha, porque cismada para mim todos os
homens representavam alguma nova desventura. A maneira de sobreviver São Paulo
era dificílima, cheia de surpresas entristecedoras; trabalhar, trabalhar dia e
noite. Ainda assim eu enfrentei a lida até onde pude, montando rádios de pilha
numa fábrica pequena. O salário me permitia pagar o aluguel de um quartinho,
ter luz e água encanada e comer razoavelmente. Numa noite fui roubada, tomaram
meus documentos e me empurraram com muita força ao chão. Caí e quebrei o braço.
Nos dias que se seguiram não pude trabalhar. Perdi o emprego uma semana depois
(meu padrão anunciara com duas ou três palavra e virou as costas...), eu não
tinha carteira fichada. Talvez eu não consiga narrar tudo o que me ocorreu
depois, porque foram adversidades maiores do que eu, para ser sincera.... Eu
não tinha profissão, eu não tinha diploma, perdi meu histórico do Magistério em
algum lugar, perdi meus documentos no assalto; eu não sabia fazer outra coisa
além de serviços domésticos, mas eu não tive sorte em arranjar um bico numa
casa de família. Trabalhei uns dias em
restaurantes, trabalhei por um prato de comida, dormi no metrô. Foram meses
próximo à indigência, até dormi em praças, e bebi cachaça, miseravelmente. Porém,
ao tentar sair do “torvelinho de rua”, finalmente encontrei serviço numa “casa
de mulheres”, na Lapa. E era-me demasiadamente injusto o preço pago pelos
serviços que prestava, movida por tanto desamor a mim mesma — desculpem-me
falar assim, com tamanha franqueza.
Também tive a alegria de conhecer mulheres que
conseguiram sair desta casa, pela força de um misto de coragem e esperança,
porque criam neste tipo de vida como uma morte de si, em oposição à certeza de
que algum destino, mesmo que minúsculo, as esperava. Outras aqui mantiveram-se
por toda uma vida, enfrentando cotidianamente o “macho atroz”, aquele homem que
está certo de que somos por merecimento e culpa nascidas para tal função. Eles
sentem ódio enquanto gozam, e eu sinto nojo e meu único orgulho é minha eterna
frigidez. Há quem se acostume com tudo nesta vida; há quem veja o vermelho do
inferno em chamas e se acomode aos poucos (numa cadeira de plástico, ou numa
cama de pedra) até não mais senti-lo, pondo sobre a pele uma multidão de
ataduras, como se o diabo não reconhecesse de longe o corpo mumificado de uma
puta melancólica. O macho que eventualmente me cheira fede, e seu fedor me
atravessa até o osso, e não há sabão de coco que me limpe se eu não arrancar a
pele pelo avesso.
E quanto as amigas que escaparam deste puteiro?
Ouvi notícias de muitas que retomaram a sua vida normal, voltaram a estudar e a
trabalhar, subindo os degraus da honestidade que, para aquelas que viveram o
que vivi, como diz o ditado “tornaram-se muito mais altos e difíceis de escalar”
— porque sempre haverá pessoas que nos agarram as pernas, conforme seus interesses,
e nossa alma vai se cansando a novas investidas, e não restará alguma força
interna para ser feliz. Que morra José Pereira, aquele covarde! Que tenha
morrido de algum mal terrível o infame Seu Tibério. Que Ronaldo tenha morrido
também (nunca me esqueci das suas violências, e não vale a pena perdoá-lo). Que
morram todos eles e que eu viva o bastante apenas para saber de tais notícias.
Não quero perdão, não quero nada, não tenho o dever de perdoar; somente quero
saber de tais notícias. É isso que desejo.
Quero te falar uma verdade, mas não uma verdade
triste. Quem sabe uma reparação é o que desejo te contar. Preciso retornar! preciso
voltar para casa! É saudade demais da conta! Se eu não retornar eu morro. O que
ainda estou fazendo aqui? Minha filha Maria tem hoje quinze anos, aniversariou
em março, data tão linda, meu Deus! Preciso vê-la. O que estou fazendo aqui? Preciso
abraçá-la, olhar em seus olhos e ouvir sua voz de menina; quero contar-lhes
coisas importantes sobre a vida; preciso saber se está bem e é feliz, preciso
lhe pedir perdão... Minha última chance, eu ainda quero tomar gosto pela vida.
Preciso ver minha filha, ter a certeza de que vive bem e em paz. Se assim em
breve não suceder, pra quê viver?