por Nely da Costa Barbosa__
Essa
noite o sono demorou a chegar, apesar do cansaço, porque tive um dia cheio.
Decidi não fazer nada, ficar quieta na cama, esperando ser vencida pela
exaustão, foi aí que as lembranças começaram a chegar.
Lembrei
de vários momentos importantes da minha vida, de alguns amigos, das aulas no
conservatório, da faculdade...
De repente
ela estava lá, declamando poesias para mim, minha avó materna, nossa Dinda. Ela
era deficiente auditiva, perdeu a visão muito cedo e não andava, todas as
lembranças que tenho dela, são na cadeira de balanço, dentro do seu quarto,
esperando pacientemente alguém resolver visitá-la.
Nunca,
nunca mesmo, se queixava por ficar tanto tempo sozinha, pelo contrário, nos
recebia sempre com um largo sorriso e depois de identificar o visitante, que
reconhecia através do tato, pois conhecia o contorno de cada rosto, a textura da
pele, dos cabelos e o cheiro de cada neto e neta, recitava poemas, sempre os
mesmos. Não se preocupava com isso, porque sempre tinha uma entonação, um
gesto, uma expressão diferente. Essa foi a forma que encontrou para sobreviver.
Entre
um e outro poema, havia sempre a preocupação em saber se tínhamos gostado, se
gostaríamos que prosseguisse. E o abraço, o beijo nas mãos, o sorriso... E as
lágrimas dessa saudade imensa agora.
Te amo,
hoje com palavras, porque naquela época, não tínhamos esse costume. Nunca te
falei: Eu te amo! E você também nunca me falou. Mas sei que, em nossos
corações, essa dúvida nunca existiu.