por Sandra Modesto__
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De
tarde o barulho se aquieta. Depois das cinco e meia, que é quando a empreitada
entoa a canção da despedida.
Amanhã
começa tudo de novo, mas pode ser com outros acordes. Porque o som da
britadeira, dos operários passando a pá de cal com força pelo patamar. Raspando
as mãos como se fossem quadros de arte, respingando tintas pela janela do meu
quarto, zonzo e inocente. Eu sentei mirando naquele espetáculo bêbado os cacos
de telha voando na minha cama.
Quisera
eu soubesse quanto tempo duraria a eternidade.
Nessa
garupa desse veículo chamado vida.
Antes
dessa história, antes desses dias. Mas deixa eu contar o início...
Moramos
numa casa há treze anos. Uma pré-adolescência afinal, envolta em planos de
marcar as linhas do coração. Como se a morada fosse o corpo da gente. Que fala,
ouve, canta, lê e silencia.
Barulheira
agitando meu cérebro, escuridão em três quartos e banheiros. Luzes acesas porque o sol fugiu, esmagando o brilho devorado em quase duas estações.
A
gente teve uma conversa e a possibilidade de procurar outro canto pra viver
entrou no jogo. Mas ainda tinha sol no quintal imenso, o Chico Buarque Modesto
brilhava e se encantava. No jardim, também.
Foi
quando afinamos a voz em um último som decisivo: “Vamos ficar por enquanto”.
A
paixão pela casa. Como se fosse única.
E
isso me possibilitou a ideia de conversar com os pedreiros. São eles que constroem
tijolo por tijolo num desenho mágico.
Sandra Modesto é graduada em Letras e pós-graduada em Educação. Tem 61 anos. Mineira de Ituiutaba. Autora dos livros: Era Sábado, crônicas, Kotter editorial, 2022. | Tudo em mim é prosa e rima - editora Autografia, 2019. | Acenda a luz, prosa poética, editora Kazuá, 2015. | Textos em sete antologias. | Autora com textos publicados na edição impressa da revista Philos: concurso CEAT Flist- Releitura da obra de Chico Buarque. Em 2019 | Cronista no site- Crônica do Dia. | Textos publicados em diversas revistas e sites digitais. Professora de português aposentada. Ocupa o tempo com leituras. Gosta de ouvir histórias. Acredita na leitura de mundo.