por João Gomes/Revista Vida Secreta__
Impossível me recordar, mergulhei intensamente no mundo dos livros desde muito cedo. Mas vou escolher aquele que foi, com certeza, o primeiro livro a me arrancar muitas lágrimas e a me fazer pensar no poder transformador da literatura, que foi O Meu pé de laranja lima, do José Mauro de Vasconcelos, que li ainda bem criança.
2 - Entre a leitura e a escrita, qual o seu maior prazer?
Acho que são atividades completamente
distintas, que acessam áreas diferentes, que movimentam outro tipo de energia e
que demandam entregas quase opostas. Mas, no fim das contas, para mim, escrever
é trabalho, ofício, esforço enquanto leitura é prazer, fruição e descoberta.
3 - Costuma ler em e-reader?
Sim, há algum tempo me entreguei ao Kindle e
hoje não consigo viver sem. Sou especialmente apaixonada com a funcionalidade
que te permite fazer um arquivo único com todos os seus grifos. Isso vale ouro!
4 - Você prefere ler um livro por vez ou vários de
uma vez?
Prefiro sempre ler um livro por vez, me dedicar ao texto, às personagens, às escolhas estruturais e estéticas do autor. Entretanto, na vida prática, isso quase nunca é possível, de modo que já estou bem acostumada a administrar várias leituras simultâneas.
5 - Qual é a maior dificuldade para o escritor hoje?
A mesma dificuldade para todos os brasileiros:
viver em um país orientado por um projeto de aniquilação de povos, de
diferenças, da cultura. Sair da cama todos os dias e aceitar o que nos
tornamos.
6 - O que te faz amar um livro e qual mais influenciou sua vida?
Muita coisa pode me fazer amar um livro, até mesmo a utilização de uma palavra que eu adoro. As chances de um livro que carregue “amiúde”, por exemplo, não me tocar, são bem baixas. Mas, normalmente, o que me emociona é um trabalho consistente de construção de personagens, o lapidar das frases, a surpresa e o espanto ao final de um capítulo.
Estou sempre recomendando as leituras que me
tocam. Se um livro mexe comigo eu quero mais é que ele faça o mesmo pelo maior
número de pessoas.
8 - Qual gênero você raramente lê?
Não sou uma grande leitora de ficção
científica, ainda que tenha me encantado profundamente por algumas obras desse
gênero.
9 - Você se inscreve ou se guia por prêmios literários?
Sempre que elas fazem sentido!
13 - Qual o/a seu/sua poeta preferido/a?
Ana Martins Marques, todos os dias.
14 - Como você acredita que deve ser a formação de um escritor?
Múltipla e contínua. Pra mim, um escritor se forma em centenas de páginas de livros lidos, de textos escritos e reescritos e nas trocas com o outro.
16 - Quais livros você leva em viagens?
Qualquer um que eu esteja lendo no momento. Se estiver lendo mais de um, tendo a escolher aquele que vai demorar mais para acabar, pois sempre leio bastante quando em trânsito.
17 - Você acompanha financiamentos coletivos de
livros e de projetos literários?
Definitivamente, e já conheci grandes obras por meio desses projetos.
18 - O que te faz parar de ler um livro na metade?
Perceber que eu li duas páginas inteiras e não prestei atenção.
20 - Qual seu lugar favorito para ler e qual será sua próxima leitura?
Minha cama, no silêncio. A próxima leitura será Mandíbula, da Mónica Ojeda, publicado pela Autêntica Contemporânea.
Marcela Dantés nasceu em Belo Horizonte em 1986. Em 2021, seu romance de estreia, Nem sinal de asas, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria Melhor Romance de Estreia, e do Prêmio Jabuti, na categoria Melhor Romance Literário. Em 2016, foi a autora residente do Festival Literário Internacional de Óbidos (FOLIO), em Portugal, onde iniciou a escrita do romance João Maria Matilde lançado recentemente pela Autêntica Contemporânea.
João Gomes nasceu no Recife/PE em 1996. Autodidata, é escritor e poeta, publica resenhas, crônicas e entrevista com escritores na revista Mirada. Publicou em algumas antologias, como Granja, Sub-21, Capibaribe Vivo, Tente entender o que tento dizer, No entanto: dissonâncias e etc. Edita a revista de literatura e ideias Vida Secreta. Atualmente estuda Multimídia no Ginásio Pernambucano e mantém no prelo seu livro de poesia.