por Valdocir Trevisan__
O Grito, de Edvard Munch |
Geralmente
gritos significam dores e tristezas, porém outros gritos podem reverter o
processo. Entretanto, normalmente eles revelam sofrimentos e angústias como
rios secos e lamacentos. Na década de 1890, Edvar Munch pinta vários quadros
onde cores de sangue anunciam cabeças sem rostos perambulando em ruas sombrias.
Parecem caminhantes errantes sem brilho, suas faces quase não possuem olhos. Lembram
solitários perdidos na multidão. São fantasmas sem alma caminhando para o nada.
Em 1893,
Munch apresenta o seu quadro "O Grito", uma revelação da dor máxima, um
berro horripilante, um desespero total.
O Grito dos gritos.
Na
época, Munch disse que enquanto caminhava com dois amigos teve uma sensação de
desespero, um sentimento de vazio extremo. Observando o quadro famoso, cada
indivíduo identifica seus gritos internos, aqueles que insistem em permanecer
lá no fundo dos nossos subsolos psíquicos. Cada um com seu "grito"
desgraçado que sempre retorna para avisar aquele triste e amargurado momento de nossas vidas.
E você
amigo leitor(a) ainda sofre com tal lembrança? Ainda é perseguido por um fato
do passado? Qual seria esse episódio? E, afinal, o que fazer para reverter a
angústia?
Sempre
lembrando que existem gritos alegres, gritos de gol, gritos de vitórias, gritos
de amor que superam gritos de dor. Como Ingmar Bergman em seu filme "O
Sétimo Selo", o jogo de xadrez com a morte é revelado.
Talvez
o grito de Edvar Munch represente sua tristeza por perder duas irmãs e a mãe
quando ainda era criança (uma delas faleceu com apenas 17 anos, vítima da
tuberculose). Munch pintou os momentos derradeiros da menina em uma tela,
pasmem, maravilhosa. Um ano após "O Grito", ele divulga ""Ansiedade", que parece ser uma contínua sucessão de trabalhos depressivos.
Essa é
a luta, virar o jogo, vencer o jogo de xadrez de Bergman, situar o mundo de
Descartes em sua época, onde pensavam que a razão e a matemática destruiriam
até Deuses.
Tolos.
Quero o
2+2=5, já escrevi aqui essa tese várias vezes. E espero que o céu vermelho de
sangue de Edvar Munch se transforme em um belo pôr do Sol, onde o Rei Sol
escancare suas cores amarelas, laranjas e vermelhas. Porém, o céu de Munch
ainda reflete explosões, como a do vulcão de Krakatoa que incendiou os céus
poucos anos antes do artista pintar "O Grito". Entretanto quero seguir outros céus, onde somente
eu possa definir a cor do "meu" céu...
E se é
verdade o que se diz nas profecias que o mundo acaba um dia, como Raulzito cantou,
resta ao simplório gritar de amor, não de dor, gritar por vitórias, não
derrotas...você decide...
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Autor do livro de crônicas Violências Culturais (Editora Memorabilia, 2022) Para acessar seu blog: clica aqui