por Taciana Oliveira__
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O poço
Perdão, Ubaldo
Deus não é brasileiro
e nem mesmo sabe
o custo da cesta básica
ou da bala que se encaixa
na cabeça do homem negro
Perdão, meu filho
o poço é fundo
raso
grotesco
O poço é desespero
crânio esmagado
corpo incinerado
sob o silêncio das multidões
Perdão, amigo
pela pátria devastada,
a morte indígena anunciada no café da manhã
Perdão, meu amor
por cada nome esquecido
em capsulas de 9 milímetros
abençoadas pela tradicional família cristã
Perdão, trabalhador
pelo tribunal que afaga o mito
e o estuprador como um irmão
Perdão
sem receio ou vergonha;
--- até quando aceitaremos
o fascismo como religião?
Até quando?
Taciana Oliveira – Editora das revistas Laudelinas e Mirada e do Selo Editorial Mirada. Cineasta e comunicóloga. Na vitrolinha não cansa de ouvir os versos de Patti Smith: I'm dancing barefoot heading for a spin. Some strange music draws me in…