Os meus contos partem sempre de uma provocação | Anderson Estevan


por Taciana Oliveira__



Conversamos com o escritor e jornalista Anderson Estevan sobre o lançamento do seu livro Oito contos enjaulados (Confraria do Vento, 2022). Em um bate-papo virtual com a revista Mirada o autor destacou: são oito histórias insólitas que têm como plano de fundo a solidão e a impossibilidade das relações. O livro condensa narrativas com homens-peixes, seres diminutos, duplos com péssimas intenções e pessoas com alergia a tudo o que é tecnológico. 


Segue a entrevista:

 

 

1 - Como você define Oito contos enjaulados?

 

Um punhado de metáforas envolvidas em literatura fantástica. Como o título antecipa, são oito narrativas que envolvem e aprisionam a condição humana, o cotidiano, esse novelo cinzento na sala de estar. E o insólito, o maravilhoso, surge justamente para afastar esses personagens solitários por natureza deste ciclo. Embora os contos tenham formas e cenários distintos, além de utilizar estruturas de narração pouco usuais, o mecanismo de leitura é muito parecido.  Acho que é mais ou menos por aí.

 

2 - O que você destaca do processo de desenvolvimento narrativo do teu primeiro livro?

 

Neste sentido acredito que temos dois pontos, o primeiro diz respeito ao foco narrativo. Cada conto se apropria de uma maneira diferente de narrar, e temos aí narrador em segunda pessoa, primeira e terceira, onisciente ou não. Na outra metade da resposta está a forma do texto. Temos narrações lineares, registros epistolares, documentos e memórias da infância. Essa combinação de foco e modelo narrativo se alimentam e vão conectando as histórias. O desenvolvimento em si segue caminhos parecidos e fórmulas já consagradas para o desenvolvimento de contos. 

 

3 - Quanto tempo de formatação até chegar na versão final da obra?  Teve uma rotina de trabalho?

 

Ao todo a escrita do livro levou pouco mais de três anos. Fui escrevendo cada história como única, mas com uma ideia de uma atmosfera comum envolvendo as histórias. A minha escrita é a das brechas. Infelizmente não consigo me dedicar aos contos como gostaria, então aproveito pequenos espaços na rotina, durante a noite ou nos fins de semana, para escrever.

 

4 - Quando você se descobre escritor? Que nomes te influenciaram a mergulhar no ofício da escrita?

 

No meu caso foi escrevendo. Desde jovem gosto de ler e frequentava uma biblioteca pública próxima a minha casa. Em uma dessas visitas encontrei com uma pessoa doando livros, e pedi para olhar se havia algo interessante. Essa pessoa me sugeriu A Metamorfose, do Kafka, e deste dia em diante não consegui pensar em outra coisa além de escrever. Além do Kafka, acredito que Borges, Cortázar e Murilo Rubião foram nomes fundamentais para a minha formação como leitor e escritor.

 

5 - Você tem alguma metodologia para a criação do perfil psicológico dos personagens em Oito contos enjaulados?

 

Não. Os meus contos partem sempre de uma provocação, da observação cotidiana. Algo trivial, como uma lembrança das férias de infância ou mesmo da dificuldade em entregar um trabalho, se tornam temas e vão se desdobrando para os personagens. E aí é que vem a metáfora. No que escrevo, os personagens estão a serviço da metáfora. Começo a pensar no perfil psicológico lá para a quarta, quinta versão, em que a ideia principal do conto já está estabelecida no papel.

 

 

                              


Anderson Estevan
é jornalista e pós-graduado em jornalismo literário. Publicou os poemas de Cores primárias (2014) e estreia agora, na forma breve, com Oito contos enjaulados.








Taciana Oliveira – Editora das revistas Laudelinas e Mirada e do Selo Editorial Mirada. Cineasta e comunicóloga.  Na vitrolinha não cansa de ouvir os versos de Patti Smith: I'm dancing barefoot heading for a spin. Some strange music draws me in…