por Carlos Monteiro__
Quero te fazer uma declaração de amor pública para que todos saibam,
abertamente, o quanto eu te amo, o quanto eu te quero diariamente, não dessas
piegas, cheias de lugares-comuns, frases feitas ou absolutamente sem sentido do
tipo “saudades do que não vivemos”. Também não quero te chamar de amorzinho,
benzinho, queridinha ou qualquer outro ‘inho’ ou ‘inha’ que possa existir. Me
parece muito diminuto para o tamanho que exerces em meu coração, minha mente e
no meu corpo. Ah, e como exerces. Me parece apequenado para tua grã eloquência
e loquacidade. Quero dizê-la aos quatro cantos e ventos, às sete freguesias, às
32 regiões e a todos que me puderem ouvir, quão magnitude tens. Qual o quê
digam em contrário.
Minha declaração será pulsante, te fará perder fôlego, suspirarás. Te
elevará às nuvens, te deixará flutuando tal qual dente-de-leão, te efetivará em
brasa. Quero dizê-la sempre à meia-luz do abajur lilás, vermelho ou branco, não
importa, basta que tenhamos penumbra, que estejamos à sombra, quem sabe até do
teu guarda-sol, naquele cantinho especial do Leblon em que te mostras por
inteira, silhueta torneada, calor que provoca arrepio.
Será ao som de um bolero, que tanto gostas, - “Românticos de Cuba”? Um
samba-canção bem-marcado, um batuque em partido alto e, por que não, até um
charme vindo do lendário Viaduto de Madureira. Contanto que tenha melodia em
‘BG’, contanto que seja trilha sonora para ti, contanto que te faça feliz, que
traduza o teu mais profundo sonho, que te traga paz.
Vou expor meus sentimentos de forma clara, verdadeira, dizer-te o
tamanho da minha paixão. Por ti buscarei o brilho das estrelas mais longínquas,
te direi todas as verdades contidas na luminescência do meu olhar. Pedirei a
Lua que não se envergonhe da sua beleza e não se torne minguante. Te farei
vaidosa, dadivosa, dengosa, amorosa, a rosa, aquela que rouba teu aroma.
Bem-querer à flor da pele que pulsa, com o coração, compassado de amor. Me
apropriarei de Bilac, Florbela, Camões, Neruda e Chico para recitar-te em
versos e em prosa, bendizer-te infinita em meus olhos postos de te ver, bela e
misteriosa em minha boca, suave e sutil em aroma imaculado. Razão de vida, já
todo o meu viver, charneca em flor, comboio de corda, misterioso livro. Dirás
que ouves estrelas, que quando a noite vem, salpicam o chão da tua rua de
pedrinhas, talvez falsos brilhantes, no bosque da solidão das espumas ao vento.
Nunca perderás a razão tampouco o senso, só quem ama é compreendido.
Declarações de amor precisam ser cirúrgicas, parnassas, delicadas,
românticas e, ao mesmo tempo enérgicas pela sutileza que a “Flor do Lácio”
impõe. Precisam que peguem de surpresa a “Dulcineia del Toboso”, que calem
fundo n’alma, que provoquem um bem súbito, têm que falar de amor, de paixão, de
tesão, senão...? Não há solução! Não precisam falar de arrebatamento, ainda que
seja inevitável, mas afabilidades são cruciais, absolutamente ternas. São
fulcrais.
Então assim: amo o teu viço tropical e o teu aroma matinal de virgens
selvas e de oceano largo como e quando sorris; rio caudaloso, cachoeira em
esplendor pleno, mar revolto, carinhoso ao afagar as areias. Amo-te, ó rude e
dolorosa às vezes, pecaminosa, amo-te de qualquer forma! Deusa principesca,
musa mágica maravilhosamente mar, amar, há mar, ao mar, o mar. Amo-te com a
força das paixões fugidias e arrebatadoras. Como é bom poder cantar-te,
contar-te segredos, os mais profundos, encostado a ti. Fazer-te arder em fogo,
deleitar-se em quimeras, utópicas, encantadoras mil. Gracejo retumbante, magnetismo,
magnética rubra, desse meu não querer mais que bem-querer.
Amo-te encantamento ao seu lado, encantado ao lado seu quando fazes
biquinho para chorar baixinho e lavar-levar com lágrimas os males do mundo.
Amo-te muito, um sem-tamanho infinito. Amo-te coração apaixonado que vive
n’alma, altar santificado, canção flama, elo venturoso. Agostiniano dizer-te
que a medida do amor é amar sem medida.
Amo-te de Sol a Sol, nas brumas e chuvas efêmeras, ainda que prefira o
Sol. E como preferes! E como ficas linda ao seu doirar! Porque és solar, és
luz, és canto enquanto encanto. Amo-te furtiva, oculta, encimada branca areia,
alva sílica. Simplesmente amo-te porque o amor não se mede, não se compara, não
se coteja, não se afere, não se condiciona. O amor, única e simplesmente, se
ama, se vive.
Eis minha declaração, eis-me exposto aqui, eis-me a dizer quem és: só a
ti e ai de ti, Cidade Maravilhosa, eu hei de amar por toda a minha vida, sejam
elas quantas forem. Como é grande o meu amor por você!
Eu vos declaro, fotocrônica de Carlos Monteiro