por Yvonne Miller__
Não sei como foi para você, mas depois do primeiro turno eu fiquei meio paralisada. O susto não era porque não havíamos ganhado logo nesse dia; com isso eu contava. Eu não contava era com uma margem tão pequena entre o candidato que representa a Democracia, a Educação, a Saúde, a Preservação da Natureza, a Ciência e a Justiça Social, e aquele outro que representa a violência, o racismo, o machismo, a homofobia, a mentira, o descaso com a fome e o sofrimento, o desvio de dinheiro público e a incapacidade para o cargo.
Nos dias que seguiram, o choque se traduzia na lentidão da minha cabeça, na dificuldade para encontrar palavras, num frio nas minhas profundezas, como se minha alma tivesse sido encerrada em algum porão escuro, úmido e gelado da História. Só meu coração... esse insistia em acelerar cada vez que lembrava do primeiro e piorava ainda mais quando pensava no segundo turno.
Depois do choque veio a raiva. Não com a pequena parcela de bolsonaristas convictos – em cada sociedade existe gente ignorante e de mau caráter e estes ele representa de fato. Tampouco com a grande parte dos eleitores que ele não representa, mas que estão sendo enganados com fake news, um falso moralismo, lavagem cerebral e assédio de empresários criminosos – esses também são vítimas. Eu tô é com raiva das pessoas instruídas que tem a capacidade intelectual para desvendar as lorotas da propaganda eleitoral, mas que preferiram dizer não à inteligência. Eu tô com raiva da classe-média-casa-grande que apenas visa manter os próprios privilégios. Eu tô com raiva da classe média que só pensa até a ponta do próprio nariz. Da classe média sem empatia, sem consciência social.
Quem pode ter plano de saúde, pagar escola e faculdade particular pros filhos, comprar um carro pra não ter que andar de ônibus, quem talvez até sinta o dinheiro apertado no final do mês porque está tudo muito caro, mas nunca passará fome nem nunca correrá o risco de perder a moradia; esses nunca sentirão na própria pele o impacto do seu voto. Para eles, na verdade, tanto faz se ganha um ou outro – na vida deles não vai mudar muita coisa. Mas para outros, sim. Para quem depende do SUS ou da farmácia popular, para quem tem filhos em escola pública, para quem estuda ou ensina em universidade federal, para quem precisa do transporte público para ir trabalhar, para quem tem que decidir entre botar comida na mesa ou pagar o aluguel; para estes, sim, faz diferença. Estes sentirão o voto dos outros na própria pele, na própria vida. Para estes é essencial que o Lula vença no segundo turno.
Depois da raiva veio a reflexão. O que a gente pode fazer? O ideal mesmo seria conversar com as pessoas, mostrar, explicar. Eu não sou boa nisso, mas talvez você seja. Usemos nosso dom – cada um tem seus pontos fortes. O mínimo que todos nós podemos fazer é divulgar as propostas do Lula para fora da nossa bolha – principalmente para aqueles que estão sendo enganados –, espalhar os benefícios que os governos dele no passado já trouxeram, engajar nas redes sociais dele, divulgar uma boa imagem dele sempre. Às vezes a gente fala tanto do outro candidato que esquecemos de falar do nosso. E como diz um velho ditado de marketing: “Falem bem ou falem mal, o importante é que falem.” Deu certo para ele em 2018 – desta vez vamos fazer diferente.
Estou cansada, ansiosa, e, e em muitos momentos, frustrada com tudo isso. Imagino que você também. Mas disso a gente pode cuidar depois. Esta não é hora de desistir. Esta é hora de juntarmos nossas forças, usarmos nossas habilidades e fazermos o melhor que pudermos, cada um do seu jeito.
Só temos mais uma semana. A nossa chance é agora. Vamos fazer isso, vamos fazer agora e vamos fazer bonito. Não pra mim, não pra você, mas para o bem-estar do coletivo. E principalmente para aqueles que sentirão o impacto na própria pele.