por Taciana Oliveira__
Geografia Estelar
navios tombam & afundam com ciclones durante a tempestade
eu me afogo no emaranhado dos seus cabelos longos & tornados que me tornam uma fera mansa como um Tigre de Papel ou um Lobo da Estepe
me rendendo a essa leoa coroada de garras finas e delicadas que matam sem misericórdia
& contornam todo meu corpo & acariciam cobrindo meu rosto molhado de suor
após seu ataque criminoso e gentil
quero aprender a cartografia que você fala & me preparar para montar o mapa do teu coração a partir da atmosfera do teu ser
explorando o núcleo das tuas entranhas sem precisar da climatologia para calcular o calor & umidade abundantes de dentro de ti
descobrindo a geografia dos teus lábios & pescoço & cintura partimos para as estrelas cintilantes que você lê
me dizendo que sou um ariano nato
& que se dá bem mesmo sendo pisciana
enquanto moro na filosofia sem entender muito bem o que você decifra na astrologia
porque as únicas constelações que me interessam estão
no céu da tua
boca.
Reflexões na fila da Caixa sob um sol de 28°
quando é que um trabalhador será valorizado? ficar aqui nesta merda é torturante. Me sinto Severin sob os domínios da Vênus das Peles sendo humilhado & massacrado para receber um salário mínimo e orando aos deuses para que eu faça algum dinheiro com minhas publicações que talvez não valham um centavo.
ora, até onde se estende a liberdade? querer visitar as belas construções egípcias decifrando os hieróglifos misteriosos & refletindo a adoração antiga aos faraós, ir ao Caribe & imitar Narciso em suas águas translúcidas e tão belas quanto a tomada do poder por Fidel, sobrevoar as linhas de Nazca dos antigos astronautas... eu posso? ou minha liberdade se estende até onde meu bolso vai?
o todo-poderoso Dinheiro não permite. Sou esmagado por sua oniponência nos quatro cantos do seu Mundo Cão. As cadelas estão no cio & eu drenado por seu charme maquiado maldito que consome minha força de trabalho como palha.
Oração
aqui, dentro do teu quarto
eu sou Alexandre, o Grande
não, melhor, sou Nero incendiando tua cama
tecendo labaredas sobre o teu corpo deitado alvo como as areias de Maragogi que são tão quentes como o sol do meio-dia
o mundo chora & queima lá fora
e eu aqui dentro molhado & aquecido sob tuas carícias de menina mulher cigana bruxa que me hipnotizam e me falam doces depravações, segredos de veludo advindos da dor do seu peito que você partilha mas não consigo aplacá-los & isso me entristece um pouco
mas logo tudo passa com seu sorriso de mil estrelas cadentes que deixa em brasa todo o meu ser & que peço a Deus pra me consumir como gasolina & um isqueiro.
há beleza na guerra? creio que sim & que é uma arte, mas nenhuma se compara às nossas guerras entre os lençóis que testemunham nosso amor tão divino & profano & que se enroscam em nossos braços e nos deixam suspensos como os belos jardins babilônicos.
inflamados de amor jovem & selvagem apenas nós estamos autorizados a entrar, pois a vida acontece aqui dentro & sinto pena de todos os outros homens lá fora por somente eu estar vivo esta noite.
você caminha pelo quarto iluminando-o todo com sua nudez
eu fico mudo e penso que a vida deve ser doce assim para todo sempre
amém.
Plaquete com poemas de José Júnior Cavalcante. Download:clica aqui
José Júnior Cavalcante nasceu em Pilar, região metropolitana de Maceió, tem 26 anos e é apaixonado por literatura, música e fotografia. Abandonou o curso de história e atualmente cursa filosofia na Universidade Federal de Alagoas. Publicado na antologia Novos Poetas Alagoanos (2019) e na Revista Areia (2020) após vencer o concurso de poesia Anilda Leão, promovido pela Faculdade de Letras da UFAL.
Postagens
