por Divulgação__
Coletivo Toma
Aí Um Poema lança antologia poética voltada para autoria neurodivergente com a
participação de 50 poetas
neurodivergentes.
Neurodiversidade
é foco do novo volume da coletânea de poemas, organizada e lançada pelo
coletivo Toma Aí Um Poema como parte da “CEMana de 22”, projeto que tem
como objetivo, 100 anos depois da Semana de Arte Moderna, organizar, mapear e
registrar a produção contemporânea de poesia. O volume, voltado para escritores
e escritoras neurodivergentes, conta com a participação das poetas convidadas Milena
Martins Moura e Carla Diacov. O material completo pode ser acessado
e lido no site oficial do CEMana de 22.
O coletivo traz
neurodiversidade como um conceito que desconstrói a ideia de que indivíduos com
funcionamento neurocognitivo diverso sejam caracterizados como portadores de
transtornos ou pessoas doentes. “A abordagem sobre a neurodiversidade
argumenta que as diversas condições neurológicas são resultado de variações
normais no genoma humano e que, ao invés de serem ‘curadas’, devem ser
compreendidas em suas diferenças, já que representam formas de diversidade
humana”, frisa Jéssica Iancoski, editora do Toma Aí Um Poema. “Portanto, neurodivergentes são os
indivíduos que possuem uma configuração neurológica diferente daquilo que a
sociedade considera o padrão.”
“O tema é
relevante porque fala da pluralidade humana e precisamos compreender que exigir
que todas as pessoas sejam iguais, tenham as mesmas características e se
comportem de forma parecida é um meio de negar a biodiversidade humana e causar
sofrimento para a nossa espécie. Precisamos, urgentemente, compreender que
somos múltiplos de corpo, de mente e de
alma. Com essa antologia, desejamos que as diferenças possam ser aceitas sem
estigmatização”, aponta a editora Jéssica Iancoski.
"Todos
deveríamos compreender que a neurodiversidade é algo tácito no ser humano. Cada
um de nós, apresenta as suas idiossincrasias, do ponto de vista
neuropsicológico. Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde, cerca
de um bilhão de pessoas sofrem de psicopatologia. Existindo empatia,
conhecimento e noção de bem comum, o que importa é que a sociedade se mobilize,
no intuito da promoção da harmonia, onde a diferença seja vista como uma
oportunidade para a cimentação de um ambiente inclusivo”, acrescenta Leandro
Emanuel Pereira, poeta, psicólogo e membro do coletivo Toma Aí Um Poema.
“Sempre estivemos aqui. Só não estamos mais em
silêncio.”
Poeta, editora e
tradutora carioca Milena Martins Moura se identifica como uma mulher
adulta autista leve, “tardiamente diagnosticada e ainda em processo para ser
laudada”, nas palavras dela. Sua luta é mostrar que o autor neurodivergente
não tem obrigação de escrever apenas sobre seu transtorno ou condição. “O
neurodivergente é sujeito complexo que pode abordar todos os aspectos de sua
vivência como ser humano. Cobrar esse posicionamento o tempo inteiro é limitar
o sujeito a apenas uma parcela de sua identidade”, afirma. Por outro lado,
ela afirma que autores neurodivergentes estão cada vez mais abordando essas
temáticas, posicionando-se como sujeitos sociais e cobrando ser ouvidos. “O
livro de um escritor neurodivergente não tem a obrigação de falar sobre
neurodiversidade. Mas esse autor, quando se pronuncia, merece ser ouvido,
dentro ou fora de sua obra”, sublinha. “Sempre estivemos aqui. Só não
estamos mais em silêncio.”
Para a escritora
e poeta paulista Carla Diacov, a neurodivergência é pouco pautada e não
só no meio literário. “Individualmente, o neurodivergente terá obstáculos no
meio literário como já tem dificuldades em outros meios. Multidão, excesso de
barulho ou de informações, dislexia quando das leituras e escrita, crises de
medo, de euforia, ansiedade, etc”, aponta. “Passamos por uma pandemia
que foi minimizada pelo presidente da nação. Ninguém está totalmente bem e
mesmo antes de toda essa tragédia, a neurodivergência não é exatamente uma
condição aparente. Enfrentaremos os obstáculos que permeiam nossas diferenças.”
Carla não possui um diagnóstico fechado, mas suspeita fortemente de grau
de autismo. “Minha resposta aos acontecimentos comuns da vida são
dolorosamente atípicos. Sou agorafóbica e tenho ataques de ansiedade desde a
infância e, sem saber o que acontecia, meus pais nunca procuraram tratamento.
Hoje trato, entre possibilidades e confirmações, uma profunda depressão, TOC,
um provável TDAH, episódios de ansiedade severa (alterando inclusive os níveis
de cortisol e adrenalina no meu corpo), mudanças bruscas de humor e a
agorafobia”, expõe.
“A neurodivergência
é uma pauta muito nova, inclusive para os neurodivergentes. Afora os incômodos
sociais que, por exemplo, uma agorafóbica como eu deverá vivenciar (e sofrer
com isso), não vejo muito impedimento para a pessoa neurodivergente se dedicar
à escrita”, ressalta Carla. “Escrever é um ato solitário, muitas
vezes contemplativo, suave, quando suave, melancólico, quando melancólico,
catártico, quando catártico, mas sobretudo solitário. Então a escrita é um
caminho amigo da neurodivergência, até como ferramenta terapêutica, em alguns
casos, como um cuidado de autoconhecimento também. Na literatura, especialmente
na poesia, a diversidade (de todo e qualquer fundo) é mais que bem-vinda, é
essencial.”
Literatura
livre, inclusiva e gratuita para todos
O Toma Aí Um
Poema é um coletivo preocupado com a inserção de autores e autoras
independentes em novos espaços de divulgação e promoção de literatura. É um
projeto social de acolhimento, de incentivo e de desenvolvimento da escrita e
da leitura. É uma potente publicadora de material literário em múltiplas
mídias: podcast (o maior de literatura falada no Brasil, com mais de 70 mil
ouvintes somente no Spotify), revista, livros físicos e digitais e redes sociais.
O objetivo é
publicar o máximo possível de poesia, incluindo minorias, e fazer circular
novos pontos de vista dentro da literatura brasileira, também auxiliando e
fornecendo informações para autores independentes sobre o mercado editorial brasileiro.
“Queremos contribuir e estimular a literatura gratuita e livre para todos”,
frisa a editora Jéssica Iancoski. “Neste ano estamos incentivando a
emancipação dos autores, em relação às editoras prestadoras de serviço.
Acreditamos em um mercado editorial mais justo e sem exploração.”