por Anthony Almeida__
Eu já tinha perambulado pela cidade histórica, já tinha descido por becos e ruas de chão de pedra durante a noite, tinha subido pelas ruas e becos durante o dia, já tinha visto e admirado os casarios antigos da cidade de Goiás, tinha até comido o empadão goiano e tomado um bom suco de caju.
Eu já tinha pensado que a cidade-patrimônio é impressionante e uma marca grande e bem preservada da colonização portuguesa e dos anos mil e setecentos. Tinha visto a estátua de Cora, o Museu Casa de Cora, a livraria no mercado público da cidade de Cora e tinha acabado de comprar Os poemas dos becos de Goiás e estórias mais, da poeta goiana Cora Coralina.
Eu ainda queria andar bem mais pelos becos e ruas de chão de pedra, queria ver o bambolear dos meus tornozelos, queria a busca pelo equilíbrio no chão de quase 300 anos. Eu e muitos dos que perambulavam, encantados pelo chão desafiador, queríamos explorar os caminhos de Cora.
Quando Caio Maciel chegou e me encontrou na livraria do mercado, também já tinha apreciado as paisagens das ruas, dos becos e da casa de Cora. Maravilhado com a poeta, ele me encontrou com o livro da goiana em mãos. Sorriu e me confessou: também queria bambolear os tornozelos pelos caminhos dela.
Ainda mais impressionado, ele me fez outra confissão. O taxista que o trouxe, contente pela chegada dos turistas, tagarelava sobre as belezas da cidade, sobre como era bom morar nela. Só tinha um problema, para o qual ele tinha uma solução:
– Tinha que passar asfalto nessas ruas de pedra tudinho!
E completou:
– Um edifício bem alto, de vidro espelhado, também seria bom e moderno.
Goiás. Novembro, 2022.
Anthony Almeida é professor, cronista e cartofilista. Nasceu em Caruaru/PE e mora em Recife/PE. Pesquisa a Geografia Literária, escreve e estuda a crônica brasileira. É cronista da Revista Mirada, doutorando em Geografia, pela UFPE, e editor adjunto da RUBEM – Revista da Crônica. Contato: anthonypaalmeida@gmail.com