Instantes, crônica de Valdocir Trevisan

 por Valdocir Trevisan__



A persistência da memória, Salvador Dali


Uma vida sem objetivo, o tempo imóvel, a alegria do mundo, o mundo das aparências, a organicidade das coisas e a viscosidade social formam os capítulos do fantástico livro "O Instante Eterno" do sociólogo francês Michel Maffesoli. 


Para quem gosta de livros de auto-ajuda, esse caminho existencial pelo viés sociológico vai esclarecer muitos elementos  paradoxais pós-modernos. O próprio subtítulo da obra alerta "o retorno do trágico nas sociedades pós-modernas". Ou como diria Stuart Hall: a crise da identidade na pós-modernidade recrudesce quando almejamos espaços para depois menosprezá-los.


Quantas vezes, principalmente na adolescência, desejamos ser inseridos em grupos a qualquer custo para posteriormente fazer de tudo para sair ou criar algo diferente? Que incoerência, querer entrar num grupo por admirar seus conceitos e valores e quando está integrado, desejar fazer algo novo...


 Incrível, o narcisismo individual  pede socorro ao coletivo. Para depois negar. 

  Que confusão!


Buscamos respostas, porém Bob Dylan já dizia, meu amigo, as respostas vem com o vento. Bob Dylan, o cara.


E Maffesoli escreve para que saibamos que, assim como o vento, o "espírito sopra onde quer", e talvez por aí, possamos entender retornos de velhos conceitos ao plano social, porque nossas certezas bailam no vento, sim, meu amigo.


Esse texto pode parecer até  conservador, mas como diz o outro, "muito antes pelo contrário", meu desejo é incluir aqueles cuja sociedade não muito distante eram considerados, vejam só, perversos ou como diz Maffesoli, viviam com identidades solitárias.


Agora, por exemplo, a comunidade gay tem suas paradas e representatividades respeitadas e separações estão afastadas, modificando finais pré-concebidos.


Respeito aos contrários.


Estou na vibe do sociólogo francês Michel Maffesoli, onde a existência valoriza os instantes eternos (e mágicos) e se antes já tive pressa, agora vou curtir passo a passo vendo as pedras rolarem.


Com meu empirismo e coerência para recusar ideias convencionais e sempre de olho nas artimanhas da indústria cultural. E ligado aos momentos ruins, eles podem ser renovadores de forças alheias e podem trazer momentos e períodos de alegria. Vejam só. 


Retornando ao autor francês, estou encantado com uma frase onde ele insinua que cada instante vivido e reconhecido justifica a eternidade.


 Estou embasbacado.


 Maravilhado.


 Como é que é seu Maffesoli?


 Cada instante, cada segundo justifica o eterno?


 Sensacional.


Cada segundinho resume nossa plenitude, a cada instante, agora eu aqui escrevendo e você lendo esse texto equivale à eternidade...novamente, sensacional. E se ano passado eu morri, esse ano eu não morro. E "Ele" já nos ensinou que o pão nosso de cada dia, de cada instante é sagrado.


 Como canta Florence em "Shake in out", liberte-se de seus demônios, se agite...agora...


Maffesoli é tão intenso que minha leitura não "anda", cada parágrafo é uma tese e cada frase uma teoria com antigos conceitos se reinventando.


Sim, exatamente isso, novos conceitos a partir dos mesmos.


Ele cita outros autores como Mestre Echhart em palavras que ultrapassam uma "pura possibilidade" para uma atualidade eterna.


Percebem?


Para alcançar uma eterna atualidade temos que ultrapassar as possibilidades mais singelas. Em outras palavras, tudo pode acontecer a partir deste instante...tudo...


 O relógio de Salvador Dalí derreteu...


E os ventos trazem respostas, pois não estou preocupado com o futuro, "estou" neste instante, curtindo sabores mais deliciosos do que as ambições do materialista desenfreado.






Valdocir Trevisan
 é gaúcho, gremista e jornalista. Autor do livro de crônicas Violências Culturais (Editora Memorabilia, 2022) Para acessar seu blog: clica aqui