por Taciana Oliveira__
“Viúvas de Sal” (Editora Patuá, 2023) de Cinthia Kriemler
evoca trajetórias marcadas pela constância da violência concebida à existência
do gênero feminino. Muito mais que narrativas explícitas e dolorosas, a autora
nos oferece personagens com perfis psicológicos desenhados em corpos
atravessados pela realidade omissa que nos afoga diariamente. São ritos de
passagem de uma lógica patriarcal abusiva, repulsiva e degradante. Meninas
silenciadas, expostas a traumas, ao abuso sexual, à exclusão social e à
alienação religiosa. Mulheres “que aprenderam a conter a raiva, a revolta, as
lágrimas, a piedade”.
Não se enganem, Porto do Xaréu e
sua Cooperativa de Pescadoras existem, e não estão tão distantes de nossas
vidas: são sombras aprisionadas no fundo de um mar escuro. Fantasmas incapazes
de retornar à superfície para respirar. Ninguém escuta os seus gritos
inaudíveis. Ninguém enxerga as suas mãos estendidas buscando ajuda.
A escrita de Cinthia Kriemler foge
da neutralidade. Ela é política, corajosamente ativista e expõe a ferida em
carne viva. Mas por favor não agreguem à obra o rótulo excludente de “destinado
a um público específico”. Viúvas de Sal é leitura obrigatória e necessária para
todos, principalmente para aqueles que insistem em não escutar ou enxergar a
misoginia que mata e abençoa os perversos. É também uma aula sobre sororidade,
essa palavra que precisa sair do dicionário e verdadeiramente ser aplicada para
além dos discursos feministas.
Quanto a João Galafuz, que ele
descanse em paz e que uma nova tempestade se anuncie sem naufrágios e mortes,
mas sob o brilho intenso da igualdade e respeito às mulheres.
*Texto originalmente publicado na orelha do livro
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Taciana Oliveira é editora, cineasta e roteirista.