por Marcela Güther__
“Pessoas desaparecidas, lugares desabitados”, de Alexandre Arbex (7Letras, 136 páginas), reúne
trinta contos curtos que mesclam uma aparente normalidade narrativa com
situações insólitas que se inspiram na tradição da literatura latino-americana.
Publicado pela editora 7Letras, o livro conta com a orelha assinada pelo
escritor e jornalista Sérgio Tavares.
Confira abaixo a entrevista completa com Alexandre Arbex:
1 - O que motivou a escrita do
livro? Como foi o processo de escrita?
Comecei a escrever o livro nos
intervalos da escrita de um romance (eternamente em preparação). Depois de
alguns contos (que descartei), imaginei ter encontrado uma fórmula para o
estilo e a estrutura dos textos, então passei a trabalhar os temas que foram
aparecendo circunstancialmente.
2 - Desde quando você começou a
escrever?
Para valer, comecei a escrever
ficção depois dos 30. Fiz algumas tentativas nada promissoras por volta dos 20
e poucos, mas os anos seguintes foram absorvidos pela escrita acadêmica e
técnica.
3 - Se você pudesse resumir os
temas centrais do livro, quais seriam?
Acho que os contos do último livro
transitam justamente por uma linha entre o maravilhoso e o absurdo, mas sob uma
simulação de normalidade. Um dos métodos que empreguei na construção das
histórias foi partir de ações relativamente simples ou de premissas prosaicas e
torcê-las até desfigurá-las completamente, sem que esse artifício parecesse
monstruoso ou proposital.
4 - Por que escolher esses
temas?
Os temas, em grande medida, se
impõem. O que um escritor pode fazer é se desarmar diante deles e se pôr à
escuta. Tudo é ficcionalizável. A diferença literária específica está na
abordagem e no processo de escrita.
5 - Quais são as suas principais
influências literárias? Que escritores influenciaram diretamente a obra?
Certamente a literatura latino-americana,
desde o realismo mágico até os contemporâneos. Meus escritores prediletos são
Borges, García Marquez, Silvina Ocampo, Alejo Carpentier e, mais recentemente,
Roberto Bolaño e Mariana Enriquez. Em língua portuguesa, Machado de Assis,
gênio absoluto, Eça de Queiroz, Guimarães Rosa, Saramago e Agustina Bessa-Luís,
cuja prosa é insuperável. Entre os clássicos, Cervantes, Swift, Dickens,
Tolstói, Kafka e Proust. E tudo de Primo Levi.
6 - Você é carioca mas vive há
13 anos em Brasília. De que forma a cidade influencia sua escrita?
Comecei a escrever ficção, para
valer, aqui em Brasília. Acho que o ambiente burocrático, a geometria
despovoada da cidade e a aridez do cerrado têm influído tanto sobre o estilo
quanto sobre os temas dos meus contos.
7 - Como é o seu processo de
escrita? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Tento escrever todos os dias, um
pouco pela manhã e um pouco à noite, antes e depois do trabalho e dos afazeres
domésticos e familiares. Em geral, leio alguma coisa antes de começar a
escrever, um(a) autor(a) cuja obra me ajude a resolver ou desatar problemas
específicos da escrita.
8 - Como foi a sua aproximação
com a editora? Como foi o processo de edição?
Trabalhei para uma editora, a Casa
da Palavra, que por alguns anos funcionou no mesmo prédio onde a 7Letras estava
instalada. Depois, prestei, como revisor, alguns serviços para a 7Letras. Essa
proximidade me ajudou a entrar na editora como escritor. O processo de edição
foi exasperante, por culpa exclusivamente minha: fico até a última hora fazendo
ajustes e retificações no PDF.
9 - Quais são os seus projetos
atuais de escrita? O que vem por aí?
Uma novela, um romance e outro
livro de contos, já razoavelmente adiantados, com versões preliminares
completas, mas ainda desanimadoras.