por Sandra Modesto__
É na despedida do sol que eu atravesso meu corpo atormentado pela falta de Brisa
Quando menina o vento era um calmante ávido em êxtase. Mal entendia Brisa, bem o afago estendia. Do cruzamento do toque nas pernas, do quanto o intenso era ser e nada mais.
São poucas horas e tantas noites e muitos anos e o meu olhar previsto depois da solidão.
O sol é palpite, afinal, os tempos são sonhos nos cadernos, a poeira impregnada a cada estação.
Vivências naquele Brasil de ódio, respirando o lento caminhar de mortes, cinzas de tédios, muitas vezes com dores.
Tenho notado alguns silêncios que também são gritos, assim como gritante é a falta de Brisa.
Procuro um universo de algum resquício do mundo menino, do mundo incrédulo buscando coragem.
Pela janela, o sol se esvai, Brisa é uma fuga. Não há mais calmaria.
Uma ríspida página sem pautas não me segura. Rabisco um texto qualquer. Ninguém vai ler mesmo.
Um sono perdido, uma madrugada chamando o som, eu fazendo café e procurando a sutileza ao redor. Nada é tão real. Porque nas ondas, o mar toca o mundo. Pronto para surgir no abraço deste país do amor.
Quando o eterno se desmancha em fugaz, a gente enlaça o calor de uma tarde em folias. Eu, o sol, a pele e Brisa.
Sandra Modesto é mineira de Ituiutaba. Graduada em Letras. Pós-graduada em Educação: “O texto e o pretexto na intertextualidade” Livros publicados: Era sábado, crônicas, Kotter Editorial, 2022, Tudo em mim é prosa e Rima. Autografia editora, 2019.Acenda a luz, prosa poética, editora Kazuá, 2015. Textos em oito antologias.