Efemérides, crônica de Carlos Monteiro

por Carlos Monteiro__



Fotografia de Carlos Monteiro


Não quero que este cosmo de foto-crônicas se transforme em um espaço de efemérides — não confundir com efeméride que só sobrevive por dois dias —, não que não as respeite, muito pelo contrário, este escriba do cotidiano sempre gostou de ler as colunas dedicadas às dataças no Globo — “Há cinquenta anos” — e no Jornal do Brasil — “Nesta data” —, que relembravam fatos e personagens, muitas vezes esquecidos em alguma gaveta da mesa de cabeceira ou na cômoda do escritório, como papéis amarelados envelhecidos pela ação do tempo, aliás, ‘efeméride’ é uma palavra tão bonita quanto libélula. O mestre Aurélio há de me perdoar pelo atrevimento. 

O saudoso Artur Xexéu escreveu, em um longínquo 2017, que “não decifrava a razão pela qual o jornalismo era, e ainda é, tão obsessivo com efemérides”. Nem eu, mas que quebram um bom galho diante da ‘síndrome da folha em branco’, ah isso é a mais pura verdade. Quando não há tema relevante para a crônica da semana é tática infalível: buscar no Wikipédia ou na Agência Brasil — “Hoje é dia”, as datas referenciadas por aqueles dias, se forem redondas então, como diria Nelson Rodrigues: “É batata!”. 

E lá vão nascimentos, mortes, fundações... vale tudo para preencher aquele alvo-papiro, sim; este que vos escreve estas singelas e bem-traçadas linhas, é do tempo da Remington carro longo, das cópias carbonadas, distribuídas para editor, revisor etc. e do papo animado no boteco da esquina, extensão da redação que para alguns coleguinhas era a própria. 

Hoje a síndrome se modernizou. Está na tela do celular, do tablet ou no monitor do notebook; é a ‘síndrome da tela brilhante’. O fato é que ela ainda existe e deixa qualquer cronista em pânico como os deadlines impostos pelas editorias.

Não é o caso desta, mas o calendário tem se mostrado propício, neste mês, do ponto de vista da inclusão e abundantemente revelador do ponto de vista da plasticidade e coloridos possíveis à captura de imagens. Este mês tem sido, especialmente, instigante para cliques ligados a datas marcantes e absolutamente importantes para conscientização e principalmente respeito.

Anteriormente ao Dia Mundial da Água no dia 22, tema da semana passada, tivemos no dia 21 o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. Data instituída e Lei sancionada pelo presidente Lula em 5 de janeiro de 2023. 

O colorido, a força e a luz dos cultos das religiões de matriz africana são fantásticos. 

Esta semana minha câmera se encheu de Axé!

Epá Babá!



Efemérides, Carlos Monteiro 








Carlos Monteiro
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve “Fotocrônicas”, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.