por Pedro Lopes Adão__
Os novos Apóstolos
Surgirão dos escombros do que foi,
dos palácios tombados de Akshardham
e das areias finas escaldantes
ao rumor do vento;
homens e mulheres, objetos,
animais, todos reinventados
por um plano maior cuja vertigem
encherá os seus séquitos de plumas,
pergaminho,
e novidades do oriente.
Os novos Apóstolos cumprir-se-ão em todas as terras,
esticando as suas mãos calejadas
nunca aos arrependidos, mas aos irremediáveis
aos que querem morrer reclusos
nas sombras, caídos, tossindo
das suas entranhas o negrume,
a essência.
Os novos Apóstolos serão aqueles
cujo dom é zelar na cama dos moribundos.
Eclipsados
Escondemo-nos no casebre de janelas taipadas,
em silêncio,
o sol perdendo-se na lua, nos seus braços frios,
enquanto o lume brando cedia à escuridão.
Os da casa agregavam-se e dos seus esconderijos
transportavam-se para as abobadas romanas
no esgar de que César era com eles.
Avisei-os, em vão, de que breve o sol incandescente
voltaria para nos estalar em síncope.
De que me serviu?, se com o breu
as suas almas viva-mortas…
Quem
Quem ele encontra – quem são?
Por que motivos as suas roupas são ténues
e os passos inaudíveis?
Quem são – quem ele encontra?
Almas, espectros amargurados, que há muito
deixaram a vida!...
____
…calem-se!...
e vem de longe este grito. Obedecemos.
Escutamos, por fim, o porquê – e ele,
que poderia ser transtornante, é somente
as partículas, os átomos, a quererem
engrandecer-se entre ruídos;
escuto – sem saber se os outros ouvem –
o crepitar de gotículas do céu e o marujar do
vento
respaldando nas suas correntes ecos:
alucino, creio, mas conheço este canto,
o mesmo que me salvou do abismo:
canto energizante
canto oblíquo às fadigas
eu era cego, contudo via
eu era mudo, contudo falava
eu era surdo, contudo escutava
o canto da natureza, dos elementos
dos pássaros a chilrar e das
águas, cristal,
que me banharam quando sofria.
Por ele, nenhuma ferida ficou por curar.
*Ars longa, vita brevis, seleção de 04 poemas do livro inédito