por Carlos Monteiro___
Foto: Carlos Monteiro |
Primeira Parte
Diante da marca suíça estar novamente em voga nos noticiários e, desta vez, não pelos surrupios feitos pelas gangues dos Jardins, lembrei-me de um fato inusitado que mistura sorte com mais sorte ainda.
Aconteceu há anos na antiga “Feira de Antiguidades” que ficava ‘protegida’ pelo Elevado da Perimetral, quando as vigas não haviam desaparecido para o etéreo, talvez um mundo paralelo de ferros-velhos que está em outra dimensão ou abduzidas na eternidade dos anos-luz. Mas esta é outra página virada de tantas que se fazem da brochura-livreto, infelizes da nossa história, que não deviam sequer terem sido imaginadas.
Hoje, a via suspensa ‘sucumbiu’ ao progresso trazendo ao espaço, da Praça XV, novamente beleza e arejamento àquela área central lambida pelas marolas da Baía de Guanabara e palco ou camarote de tantos eventos políticos-religiosos-curiosos-versáteis, observados pela Muy Leal e Heroica.
A história, nada de pescador que representasse os antigos Mercado de Peixes ou o Entreposto de pescado da SUDEP naquela área, me foi narrada pelo irmão do protagonista, antigo expositor-antiquário do evento sabatino.
Paralelo a feira oficial havia a do jeitinho carioca chamada “Cameloucos”. Consistia na formação de pessoas que saíam à cata de bugigangas descartadas pelas ruas ou lixeiras e tentavam ‘fazer um Cabral qualquer’ com as peças que eram valoradas de acordo com a cara do freguês e a demonstração de sua ansiedade-interesse. Tudo ali na mais pura descontração e informalidade. Havia de tudo, até vidros de perfumes com duas ou três gotas. Tudo era passível de escambo ou comercialização.
Um dos ‘cameloucos’ vendia relógios. Sua exposição consistia na formação de um ‘vulcão’ com as peças que se derramavam para os lados como ‘lava’. Ao contrário dos seus colegas, seu preço era fixo: “é qualquer um por cinco mirrés”. Assim funcionava para aquelas peças, que na maioria das vezes, não funcionava — e o caríssimo leitor já vai por aí me desculpando pelo infame trocadilho. A operação era bem simples: você catava em meio do furdunço o contador de tempo, mandava ‘a garça’ para lá e a operação estava concluída com sucesso sem direito a garantias ou devoluções.
E assim nosso protagonista agiu, olhou lá no meio da mixórdia e viu um Rolex que chamou de ‘bonitinho rodriguiano’. Funcionar? Claro que não, mas ali naquele ‘balaio de gato’ era questão de uma bateria nova para alimentar a versão ‘xing-ling’ e daria para o gasto do dia a dia.
(continua...)
Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve “Fotocrônicas”, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa