A anatomia dos sentimentos: uma conversa sobre dor e beleza na literatura, com Thays Horst

por Divulgação__









Solidão, depressão, parentalidade, transtorno de personalidade borderline e suas implicações são temas recorrentes dos versos do livro de estreia da catarinense Thays Horst
(@thays.horst). Publicado pela editora Paraquedas, “O cobre e os figos” (212 pág.) (d)escreve o mundo da autora, seus enfrentamentos, dores e dissociações, inspirado em um contexto de isolamento por conta da pandemia da Covid-19 e momentos de ruptura familiar. Com orelha assinada pela poeta, dramaturga e doutoranda em Literatura pela Universidade de São Paulo (USP), Carla Kinzo, e capa e ilustrações da artista visual Cândida Matos, a obra está disponível para venda na loja da editora


Com 31 anos, Thays nasceu na capital de Santa Catarina. Filha de um policial militar, cresceu em um ambiente onde o medo e a violência eram comuns. Vítima de bullying durante a época escolar, sempre conviveu com a depressão e baixa autoestima. Ela começou a escrever na adolescência, a partir dos 15 anos, em blogs autorais. Aos 29 anos, a poeta descobriu ter transtorno de personalidade borderline e, durante a pandemia da Covid-19, enfrentou uma piora dos sintomas, que culminaram numa tentativa de suicídio e a internação em um hospital psiquiátrico. 


Confira a entrevista completa com a poeta Thays Horst:



1 - Quais são as suas principais influências literárias? E que livros influenciaram diretamente a obra?


Minhas principais influências literárias e livros que influenciaram diretamente são: Gray’s Anatomy – Henry Gray, F.R.S., Neurociências – Bear, Connors e Paradiso, Casos Clínicos em Medicina de Emergência – Toy, Simon, Liu, Takenaka e Rosh, Encyclopaedia Anatomica – Museo La Specola – Florence, organizado pela Taschen, Psicopatologia – Barlow e Durand.



2 - Além dos livros, qual bagagem artística ajudou na construção da história?


Músicas e pinturas.


3 - O que motivou a publicação do livro? Como foi o processo de produção?


Sempre convivi com depressão, mas nunca estive pronta para terapia. Durante a pandemia da Covid-19  os sintomas aumentaram, tentei suicídio e fui internada em um hospital psiquiátrico. Nessa mesma época a escalada autoritária e genocida estava em pleno curso, o que levou a uma ruptura familiar. Voltei a escrever nesse contexto e aos poucos fui encontrando as imagens e sentimentos que queria expor. Foi um exercício de aceitação, revisão e dor, mas também de enxergar a beleza nesses processos.


4 - Quando você se percebeu escritora? Como começou a escrever?


Escrevo desde a adolescência em blogs autorais, mas no começo da minha vida adulta fiquei um longo período sem escrever, até que uma ruptura familiar me reacendeu essa necessidade. Após a piora dos sintomas de depressão e uma tentativa de suicídio, descobri que tenho Transtorno de Personalidade Borderline. Voltei a escrever para expor e lidar com essas dores.


5 - Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?


(D)escrevo o mundo, os enfrentamentos, as dores e dissociações, minhas e de outros. Sou visceral e busco na anatomia as referências para transformar palavras em algo gráfico, palpável, com cheiro e forma. Solidão, depressão, parentalidade, Transtorno de Personalidade Borderline e suas implicações, mas principalmente a beleza na dor, meus textos falam não só de mim, mas de todos que em mim vivem. Não sei escrever em resumo então vivo de textos sem finais.


6 - O que motivou a escolha desse temas?


Muitos eram tabus na minha família ou não eram devidamente tratados o que me fez guardar esses sentimentos. A escrita proporcionou expor e demonstrar graficamente o que vivi e tudo que eu sentia.


7 - Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?


Que as pessoas podem dar nome aos sentimentos e falar sobre eles. Acho muito difícil e, claramente delicado, escrever sobre suicídio mas muitas vezes senti falta de ler sobre. Acho importante que esse lugar exista. Com transtorno borderline, tenho uma percepção profunda das coisas o tempo inteiro, então quis trazer isso para o livro também. Onde sentimentos e ações simples sejam notados e considerados no nosso dia a dia.


8 - Como você definiria seu estilo de escrita?


 Visceral.


9 - Para você, qual é a importância de levantar temas voltados à saúde mental em sua escrita? Como tem sido a recepção do livro com os leitorxs?



Acho que a importância vem para que outros se inspirem a fazer o mesmo e percebam que cada um tem seu lugar. A recepção tem sido ótima, mostrando que não estou sozinha.


10 - Como é o seu processo de criação? Você tem algum ritual de preparação ou meta diária?


Não existe um processo específico ou método. Penso em pedaços soltos, junto ao que está acontecendo comigo ou no meu entorno. Sento, coloco minha playlist de Isaac Gracie e escrevo. A princípio minha meta era escrever um texto por mês, após o livro pronto estou mais solta, escrevendo quando há necessidade.


11 - Quais são os seus projetos atuais? O que vem por aí?


Meu projeto, no momento, é escrever um segundo livro, o que já está acontecendo. Mas vez ou outra publico novos textos no meu instagram, então fiquem à vontade para me acompanhar! 




Thays Horst (@niphred), 31 anos, nasceu em Florianópolis/SC e escreve desde os 15 anos em blogs autorais. Encontrou no bullying, numa infância solitária, no transtorno de personalidade borderline e em múltiplas personalidades a beleza na complexidade da dor. Estudante de psicologia, descobriu nas aulas de anatomia um interesse visceral de descrever os sentimentos. Tem 5 gatos – Bilbo, Aragorn, Isaac Newton, Mirtilo e Geleia, e também o amor de sua vida, sua cachorrinha Moon. “O cobre e os figos”, publicado pela Editora Paraquedas, é seu livro de estreia.