por Emanuela de Sousa __
Frame do filme Carol (2015) |
Ainda era março quando te avistei na esquina, em uma padaria. Reconheci de longe o rosto, o cabelo, a franja. Apressei os passos com medo que me visse mas a minha vontade era de ficar ali, de canto lhe espiando, até que teus olhos me olhassem.
Desde então evitei escrever sobre esse episódio pois, eu sabia que a bendita esperança, quase que semelhante à inocência de uma criança, cresceria dentro de mim. Poderíamos nos reconectar novamente? Será que você volta? Por alguns momentos me sinto tão boba. Me sinto como se tivesse estrelas nas mãos.
Após esse evento, recorri a uma cartomante, e ela viu pelas cartas que uma nuvem de dúvidas espalhou sobre tua cabeça, no mínimo pensou em mim o dia todo, procurando respostas se realmente era eu que tinha passado por ali. Se você chegar a me ler, conte-me se você dormiu nessa noite, com minha imagem girando em torno da sua cabeça.
Desde março ando não querendo mais falar de amor, queria falar sobre os eventos da vida, sobre o cosmo, as injustiças do dia a dia mas, teu nome ainda faz eco dentro de mim, como uma orquestra sinfônica barulhenta. Não há como fugir, ele existe e eu ainda existo dentro de você, mesmo que outros eventos, personagens invadam nossas vidas. O que devemos fazer diante dessa tragédia? Acolher este amor, dar a ele um canto, mesmo que não nos sirva. Deixar que tudo se acomode. O que me resta é escrever, como fiz como das outras vezes, quando pensava que nunca ia passar. Meus dedos criaram calos, um tempo depois, mas tudo passou.