O louco feliz, crônica de Valdocir Trevisan

 por Valdocir Trevisan__






Observem as expressões faciais nas ruas. Observem os semblantes do nervosinho, do calminho, dos apressadinhos e de outros. Tem de tudo e de todos. Parece que temos que viver emburrados, basta passar um grupo de crianças, jovens ou idosos felizes, falando em voz alta para a irritação geral.


É proibido ser feliz.


Horas agradáveis trazem seus paradoxos e quando vamos a festas ou bares só queremos momentos felizes com muita bebida. A noite até começa bem, mas não demora para os conflitos, choros e desabafos revirarem olhares e companhias.


Exageros nas doses recrudescem sentimentos que afloram sem ética.


A moderação de Epicuro fica no fundo dos primeiros copos e o baile revela todos os tipos de ondas que até então eram invisíveis.


Costumes equivocados, consequências trágicas.


Tenho um amigo, proprietário de um quiosque na beira da praia em Balneário Camboriú, que relata os efeitos do álcool.


Ele conta que todos os dias recebe um cliente pomposo se gabando que "tenho vários apartamentos, três amantes...". Na metade da noite a conversa recrudesce. Ele quase não tem amigos, muitos boletos atrasados, vive brigando com a família, não está satisfeito com o trabalho, enfim, "a coisa tá feia". E quando entra a madrugada, quase chorando, o infeliz desaba e ainda pede para colocar a conta no fiado.


E dizem que o louco sou eu, mas louco é quem me diz...não é feliz...


Loucos são os atuais dirigentes das instituições religiosas, máquinas de dinheiro, e por favor, não confundir crença e fé com essas empresas poderosas onde o dízimo é a primeira lei, o primeiro mandamento.


Até os monges sofrem quando Bertrand Russell afirma  que "um monge não será feliz enquanto a rotina do mosteiro não o fizer esquecer sua própria alma".


Ela é... Afinal...alma.


Verdadeira, inacessível a bens materiais, ela quer paz e amor e isso vale para todos, pois somos todos iguais de braços dados ou não.


Independe de credo, a alma misteriosa está inserida no cotidiano não importando se fora ou dentro, ela está no contexto.


Apesar das forças ocultas de Jânio Quadros, nosso empirismo determina a jornada de cada um e ainda contamos com o atual valor da resiliência.


E o sempre propagado "aqui e agora", conceito pós-moderno da hora, se une a conceitos de linguagens que orientam sabedorias.


Taí a relevância das palavras, sua semântica e seus jogos de conceitos.


O poeta já dizia, quem sabe faz a hora.


Augusto Cury acrescenta frases demolidoras aos seus personagens quanto à loucura geral, onde caminhantes errantes parecem ser indivíduos mais normais do que gananciosos sem ética e moral.


É de duvidar se a honestidade tem respaldo naquele que para conseguir seus objetivos comete atos insanos. Todos os dias manchetes na mídia denunciam “doidos” batendo em mulheres, enganando sócios e rezando para falsos Deuses.


O descontrole bate em suas portas e o tolo não se toca e fica se "achando" com sua caríssima gravata italiana.


A vida exige serenidade, a calma equilibra o desequilibrado.


"Vidas Equilibradas", título do meu próximo livro revelará, a partir de um romance existencial, os caminhos e descaminhos que  em nossas vidas cobra os pecados e...acertos.


O jargão popular “muita calma nessa hora” justifica suas palavras racionais.


 Calma.


Devagar. O bem-estar exige o Zen ao seu lado.


E se você correu, correu, correu tanto, mas não chegou a lugar nenhum, bem vindo, baby, ao século XXI, já dizia o louco feliz Raul Seixas tentando controlar sua maluquez...





Valdocir Trevisan
 é gaúcho, gremista e jornalista. Autor do livro de crônicas Violências Culturais (Editora Memorabilia, 2022) Para acessar seu blog: clica aqui