por Carlos Douglas__
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Foto: Jurien Huggins |
Feito casa de taipa
Quando criança eu gostava dos afetos que me cercavam
Gostava de dar a benção a minha vó e ela me dar um abraço
Adorava andar de mãos dadas com o meu pai na rua, dos cheiros da minha mãe...
Acontece que a gente cresce enquanto corpo-negro e vai endurecendo
Nossa autoestima baixa, se constrói na adolescência - pela cor da pele -, o abandono
das relações do início da juventude, as amizades brancas que não me entendiam e tendem
a nos embranquecer - o soltar das mãos
Daí pra frente eu me via enquanto sujeito um ser mais duro, longe daquele menino
que corria pros brancos de Dona Adelaide
Minha fala foi ficando mais dura, minha postura nos espaços se tornava mais rígida, e
meu rosto se fechando.
Dependendo de como eu aja ou faça, as pessoas (as vezes) tem medo ou receio de mim
do que eu vou falar ou como vou agir
A grande verdade é…
Eu precisava endurecer para sobreviver e crescer nessa sociedade, e fui indo.
Após um período de entendimento racial comecei a me cercar para além da família,
de outras pessoas negras, amigos,/as amores, afetos, desertos…
Com essas pessoas eu retorno as memórias daquele infância onde eu andava
“desarmado”, tento pisar descalço e me sinto acolhido.
Eu fui barro, molinho para afetos quando criança,
Depois, fui virando taipa, firme como madeira nas construções da maturidade.
E assim, hoje vejo que sou um pouco de cada e uma incompleta construção.
Uma casa que ao mesmo tempo que é mole, também é firme, um lugar que consegue
proteger os seus enquanto um lar que desvia da tempestade e dependendo de quem bate,
hoje sabe pra quem se abre ou fecha a porta.
Nesse limbo foi me construindo feito casa, feito casa de taipa.