Seis poemas inéditos de Manoel Tavares Rodrigues-Leal
julho 14, 2023
por Manoel Tavares Rodrigues-Leal__
I
é a idade elementar. efémera.
oh crânio da cidade. vítrea.
olho. desejo. e só água aflui. etérea.
Lx. 3-4-75
II
azul. o dia circula. alui.
como uma onda. que eu fui.
dispersa na praia nula. nua.
Lx. 13-4-75 – (à Ana)
III
renovo. renovo a memória.
a música secreta dos dedos. dispersos.
se aguardo. que mãos mortas da demora.
nos versos. isentos. da obra.
Lx. 13-5-75
IV
como se encerra o ciclo
das flores. ousadas. como
se cumpre a carne. em labirinto.
Lx. 20-5-75
V
altos espelhos povoam o dia:
que metáfora pacífica o dia acaricia?
Lx. 7-6-75
VI
digamos centro. insciente.
se me. sob o sol. concentro.
que deus me persegue. e consente.
Lx. 11-6-75
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*Coligidos do caderno Voz Equívoca (As Flores Eloquentes) por Luís de Barreiros Tavares
Manoel Tavares Rodrigues-Leal (Lisboa, 1941-2016) foi aluno das Faculdades de Direito de Lisboa e de Coimbra, frequentando até ao 5.º e último ano, mas não concluindo. Em jovem conviveu com Herberto Helder no café Monte Carlo frequentando com ele “as festas meio clandestinas, as parties de Lisboa dos anos 60 e princípios de 70”. Nesses anos conviveu também com Gastão Cruz, Maria Velho da Costa, José Sebag, entre outros. O seu último emprego foi na Biblioteca Nacional, onde trabalhou durante longos anos (“a minha chefe deixava-me sair mais cedo para acabar o meu primeiro livro, A Duração da Eternidade”). Publicou, a partir de 2007, cinco livros de poesia de edição de autor. As suas últimas semanas de vida foram muito trágicas, morrendo absolutamente só.