por João Gomes da Silva__
Não é mais como nos velhos tempos, quando a literatura era uma amante exigente, que nos pedia dedicação e cumplicidade. Antes, você tinha que enfrentar capas duras, cheiro de papel, marcador de páginas com a sujeira dos dedos, percorrer mundos através das letras, como um explorador destemido desbravando terras desconhecidas.
Agora, as palavras são como borboletas presas na teia da internet. A cada clique, a cada deslizar de dedo, elas se dissipam, deixando rastros efêmeros no ar digital. E nós, pobres autores, tentamos prender essas borboletas, colocá-las em ordem nas páginas de um manuscrito, esperando que alguém as descubra e se encante. Mas quem tem tempo para encantamento? Quem se importa com a dança lenta das palavras quando temos gifs animados e vídeos de 15 segundos?
Ainda assim, aqui estou eu, teclando freneticamente em meu teclado, como um louco romântico no meio de um mundo de posts instantâneos. Por quê? Talvez porque ainda acredite que entre as linhas de um livro, entre as vírgulas e os pontos finais, exista um espaço sagrado, uma ilha de resistência onde os pensamentos podem florescer sem serem interrompidos pela próxima notificação.
Escrevo porque, apesar de tudo, acredito na magia dos vocábulos, na capacidade deles de transcender o efêmero e tocar a eternidade, mesmo que apenas uma única alma solitária se encontre com a minha expressão e sinta um eco de compreensão no labirinto do texto, já terá valido a pena.
Então, sim, talvez alguns não leia tanto quanto antigamente, e talvez meus escritos se percam em um oceano de informações digitais. Mas enquanto houver um leitor curioso o suficiente para abrir uma obra literária, enquanto houver alguém disposto a se perder nas entrelinhas, continuarei a escrever, na esperança de que as palavras possam encontrar abrigo em corações famintos por algo mais profundo, mais humano e mais duradouro.