por Rodolpho Saraiva__
ÍNDIGO
Índigo é a cor
da palavra que se cala
por dentro
MARRÉ DECI
em dias de puro sol à sombra
o azul com blues
ao sul de melodias atlânticas
aninha anzol e linha ao horizonte
SOB A PRÓPRIA DIREÇÃO
essas folgas em dias convencionais
caminhando o contrafluxo de bermuda
pela Senhor dos Passos
ao paço
passo
como senhor de cada passo
— anunciam almoço sem balança
sem sobrepeso ou enganos:
tal o leve que me leva
CHEGO A ACHAR HERÁCLITO NATURAL
não tenho estômago para tanta coisa
se é azia ou ânsia
o antiácido virá
na mesa do Baixo
ou na ladeira do bar
é difícil lutar
com o coração
pois com alma se paga
e jamais diga “calma”
o fogo une, separa e agalma
a vida que é
só
o que for
agora
quem procura ouro
cava muita terra
e acha pouco
(o inesperado é inencontrável
e inviável)
então busco a mim mesmo
neste Rio que nunca é o mesmo
ainda que meu riso não esteja a esmo
assim tudo flui
jamais
ao encontro
que mataria
esta alegria
de buscar
TANTA COISA NÃO SE SABE DIZER
confesso
este delito
tanto por dito
ou não
a tal ponto que
interdito
e oiço
o silêncio inaudito
em sussurro mal dito
a me dizer
LACANIANO
toda fala é
uma demanda,
uma petição
de amor
que é
dar a falta
a quem não a quer
a quem nem se quer
pois o querer é causa só
a devorar a própria fome
e continuar querendo
enquanto
mero anseio rarefeito
de ser
amado
DESAPEGO NA OLX
o caso é ocaso do acaso
se não me caso
por acaso
o tempo seja render-se ao raso
sem azo nem atraso
emprazo
esse átimo de me perder