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ENTREVISTA | A construção ficcional da real condição destrutiva do homem
André Souto (@andresouto_escritor) é servidor do TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios) e conhece bem as estruturas de segurança pública. “Sob a Luz Negra” (Editora Penalux, 220 pág.), seu romance de estreia, ambientado em Brasília, onde o escritor mineiro reside, apresenta um panorama do cárcere e violência urbana no país, provocando discussões sociais, políticas e existenciais. A obra está concorrendo ao Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional (categoria Romance - Prêmio Machado de Assis).
O assunto complexo é conduzido através da escrita descritiva de André em um livro que cerca um mundo negligenciado pela população – mas diretamente relacionado ao bem-estar comum. A leitura apresenta as ‘regras do jogo’ entre policiais e bandidos, investigando a maldade humana, sem deixar a desejar no suspense e estabelecendo uma trama envolvente. Uma adaptação para o teatro está sendo preparada pela companhia “Fábrica Grupo de Teatro”, sob produção e direção de Wellington Dias, e será anunciada em breve.
Confira a entrevista completa com o autor, abaixo:
1 - Se você pudesse resumir, quais são os principais temas da obra?
Um casal vivendo em uma casa repleta de dispositivos de proteção e regras de comportamento angustiantes, mergulhados em relacionamento conturbado, no qual, apesar da obsessão para resguardá-los, ambos acabam obrigados a enfrentarem seus temores enquanto encaixam as peças de uma realidade assombrosa em uma mente perturbada.
Em paralelo, seguindo o tema da condição humana que limita os indivíduos pelo medo das punições, a obra retrata o cotidiano dos agentes penitenciários (na época que se passa o livro; hoje são chamados de policiais penais) e dos mais temidos presos do Brasil, chefes de facções e outros, alocados nas unidades federais de segurança máxima brasileiras.
2 - Por que escolher esses temas?
Uma forma de retratar a partir do cotidiano de pessoas comuns os medos e anseios dos indivíduos dentro da organização do Estado e da sociedade conduzidos por punições que condicionam o comportamento em busca da pacificação e convivência necessária como uma forma de afastar os seres humanos de seus instintos selvagens que culminariam em conflitos constantes, chamado de estado de natureza pelo filósofo Thomas Hobbes, desencadeando a “guerra de todos contra todos”.
3 - O que motivou a publicação de “Sob a Luz Negra”? Como foi o processo de escrita?
Já tinha uma ideia sobre uma história na qual a selvageria humana e a sociedade fossem trabalhadas de forma ficcional aos moldes do pensamento de Thomas Hobbes a partir da citação: “O homem é o lobo do próprio homem” e todo o contexto de enfrentamentos disposto em "Leviatã". Desta motivação, tracei um drama psicológico (Thriller) em um enredo que permeia a tensão interna e externa de um casal, tentando se adaptar a um insólito protocolo de segurança, partilhando seus dias com os outros personagens que vivem sob as sombras claustrofóbicas da recém-inaugurada Penitenciária de Segurança Máxima de Brasília, enquanto encaixam as peças de uma realidade angustiante.
A história, narrada por Oscar, um Policial Penal Federal paranoico, que enxerga o mundo de uma maneira obscurecida que se estende para todos os lugares, é centrada no conturbado relacionamento entre o protagonista e Nina, uma jovem que luta contra um transtorno de saúde relacionado ao controle dos impulsos (tricotilomania que evolui para tricofagia).
"Sob a Luz Negra" é, portanto, uma metáfora sobre verdades e evidências fora do espectro visível, onde nada é o que parece, descortinando até que ponto um ser humano é capaz de ir quando se torna uma ameaça à própria espécie, denunciando a atual tragédia da segurança pública brasileira e a saúde mental das pessoas.
O processo de escrita se deu acompanhado da preparação do original feita por Alba Milena e Mari dal Chico, ambas da Agência Increasy (onde o autor foi agenciado até 2020), as quais, após oferecerem um contrato de agenciamento literário ao autor em 2017, o auxiliaram a adequar o texto ao nível desejado pelas casas editoriais.
4 - Que livros influenciaram diretamente a obra?
"Leviatã", de Thomas Hobbes; "O estrangeiro", de Albert Camus; "O Senhor das Moscas", de William Golding e "Ilha do Medo", de Dennis Lehane .
5 - Como você definiria seu estilo?
Uma escrita realista em um ritmo envolvente, numa tentativa de alcançar uma eficiência narrativa cirúrgica, a qual surge somente após muita pesquisa sobre a temática e os cenários.
6 - Como é o seu processo de escrita?
Eu não tenho uma fórmula, mantenho uma rotina de escrita e pesquisa.
7 - Você tem algum ritual de preparação? Tem alguma meta diária?
Como ritual é manter um lema: se estou escrevendo sobre uma temática, as leituras são sempre correlacionadas ao texto em produção. Por outro lado, não tenho metas diárias, mas procuro escrever sempre.
8 - Quais são as suas principais influências literárias num geral?
Machado de Assis; Augusto dos Anjos; Alvares de Azevedo; Milton Hatoum; Patrícia Melo e Ana Paula Maia.
9 - Você escreve desde quando? Como começou a escrever?
Desde a adolescência. Seriamente, a partir de 2017.
10 - Quais são os seus projetos atuais? O que vem por aí?
Lançar o e-book Anjos do Haiti para concorrer ao Prêmio Kindle de Literatura de 2023. Além disso, estou produzindo outro romance também se passa em Brasília e um livro de contos que retrata os conflitos do interior do Centro-Oeste. Quanto ao livro "Sob a Luz Negra", temos programado um evento de lançamento em Goiânia, em outubro, junto do anúncio da adaptação da obra para o teatro por uma companhia daquela cidade.