O que faz da casa um lar? A poética do cotidiano de Priscilla Pinheiro

 por Divulgação__



Em “Morada em Edição” (Caravana Grupo Editorial, 52 pág.) a poeta Priscilla Pinheiro (@priscilla.pinheiroo) aborda e triangula as temáticas da casa, da memória e do tempo, investigando a "morada" enquanto  transmutação da "casa" em "lar".


Nos 37 poemas que compõem a obra, a autora puxa para dentro de sua poesia tudo o que passa despercebido pelo correr dos dias e coloca sob lentes de aumento, partindo, principalmente, daquilo que é familiar.  São cenas singelas que se destacam, como a roupa da avó, o calendário pendurado na cozinha e a receita de um bolo.


Priscilla Pinheiro nasceu em 1993, sob o signo de Capricórnio, em Fortaleza-CE. É bacharel em Publicidade e mestre em Comunicação, sendo ambas as formações pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atua como redatora publicitária há oito anos, e, em paralelo, mantém a carreira de escritora. “Morada em Edição” é seu segundo livro. O primeiro, “Passagem de Ida e Volta” (Editora Folheando), também é dedicado à poesia.  



Confira a entrevista completa, abaixo:


1 - Se você pudesse resumir, quais são os principais temas da obra? Por que escolher esses temas?

Acredito que os principais temas que permeiam o Morada são: casa, tempo e memória. 


Após ter passado tantos meses apenas em casa, devido à pandemia, passei a enxergar esse lugar da morada com outros olhos e isso teve ligação direta com a escrita do livro. Como a morada se apresenta ao longo dos anos e quais são as ruínas e rachaduras que ainda sustentam essa estrutura? Passando pelas lembranças que vivenciei nas mudanças, comecei a perceber que quando penso nas fases da minha vida, penso em casas. São as moradas que constituem os ciclos que vivo e as histórias compartilhadas entre os que fazem parte do meu dia a dia, e isso foi o que me inspirou a escrever "Morada em edição".


2 - O que motivou a escrita de “Morada em Edição”? Como foi o processo de criação?  


Minha experiência de já ter passado por várias casas e acompanhar as histórias dos meus familiares, que também já se mudaram bastante antes de eu nascer, foi o fio que me fez tecer os poemas do Morada em Edição. Comecei a escrever os primeiros poemas durante a pandemia, juntamente com os poemas que compõem o Passagem de Ida e Volta, ambos sem a pretensão de se tornarem livros, e, em 2022, fui escrevendo mais outros durante a mentoria com a Jarid Arraes, o que resultou na obra.

O processo de escrita partiu de uma tentativa de experimentar passar memórias para o papel e foi se desenrolando ao longo dos meses entre os cadernos, o bloco de notas e o computador. Durante esse caminhar, passei pela lembrança de várias casas, abrindo os portões da infância e adentrando também nas imagens compartilhadas pela família ao longo dessas mudanças. Como podemos sair de um espaço que é tão íntimo para dialogar com outras pessoas, e como essa visão micro pode se expandir para além das janelas e portas? Pensar sobre essas coisas me levou a escrever o Morada, como uma tentativa de continuar essa conversa.

3 - Que livros influenciaram diretamente a obra?


Um livro que me marcou muito foi "Preocupações", da poeta Ana Guadalupe. Nele, a escritora aborda a questão das casas que já morou, trazendo a questão da rotina e das constantes transformações experienciadas, o que dialogou muito com minha vivência, pois eu e minha família já fizemos várias mudanças de casas também, e isso conversa muito com o que escrevi em Morada em Edição. Na elaboração dessa escrita, vamos pensando sobre o que é, afinal, uma morada e como ela se constrói para além dos aspectos materiais e emocionais que a envolvem?


4 - Quais são as suas principais influências literárias? 


Wisława Szymborska, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Matilde Campilho, Adília Lopes, Caio Fernando Abreu, Fernando Pessoa, Ana Guadalupe, Jarid Arraes, Socorro Acioli e Aline Bei


5 - Como você definiria seu estilo?

Penso na minha escrita como um diálogo, comigo e com as outras pessoas.


6 - Como é o seu processo de escrita?

Gosto muito de ver as coisas no papel, então sempre que escrevo logo no bloco de notas ou no computador, ainda passo a limpo no caderno também, e fico trocando entre o analógico e o digital. Acredito que é nessa troca que consigo ver mais o que mudar, tirar ou acrescentar também. Outra coisa que gosto muito é de escrever em oficinas de escrita, então alguns dos poemas do livro nasceram nas oficinas literárias das escritoras Mell Renault e Yara Fers.


7 - Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária?


Gosto muito de coisas sensoriais, por isso gosto muito do caderno. E gosto muito de escrever no meu cantinho, também, algumas vezes penso em algo quando estou caminhando na rua e anoto rápido um verso ou uma palavra no bloco de notas, mas deixo pra escrever quando já estou no meu quarto. Gosto de ter plantas por perto, acender alguma vela perfumada ou colocar um óleo essencial, e normalmente sempre coloco música também pra ouvir, isso me inspira muito e me ajuda no ritmo da escrita.


8 - Você escreve desde quando? Como começou a escrever?

Comecei a escrever como quem começa a querer sujar o papel, rabiscando e desenhando as letras, como uma busca constante de querer ler e entender o mundo ao meu redor por meio dos riscos, das cores e das palavras. Durante o tempo do colégio, tive algumas conquistas em concursos de poesia e redação e, na faculdade de publicidade, logo vi que trabalharia com a parte da escrita quando me formasse. No período da pandemia, senti a necessidade de sair da escrita voltada para o trabalho e da escrita acadêmica de dissertação do mestrado para voltar para mim. Então, após fazer alguns cursos/oficinas de autoconhecimento, criança interior e escrita afetiva, passei a escrever com mais frequência de novo, o que desembocou na busca por mais cursos literários, leituras e práticas de escrita no dia a dia.


9 - Quais são os seus projetos atuais? O que vem por aí?

O que vem por aí é o livro Correndo com a lua, pelo Selo Camelo, da editora Pedregulho. Ele será o meu terceiro livro de poesia e vai dialogar especialmente com o universo do sonho, da infância, do experimentar, do criar e das brincadeiras.