por Marianna Perna__
Quando escrevo, um cavalo escala meu corpo
Um corpo em devastação, casa em chamas reerguida sobre
ruínas postergadas.
Uma mulher que dança seu fim, move-se como?
Um sol de fim de tarde surge como prenúncio do novo,
que sempre vem.
Reflexos sem reflexo.
Como se dança o fim?
Como se mover dentro do tempo, que é
tudo e também o nada? Como se reinventa o sentido de pisar
sobre a terra; como se mantém os ossos coesos, firmes para ser
teto e base pro ser?
De tão quebrada, acho que a terra agora dorme.
Narciso
Um sorriso
de onde brota um mundo
até então submergido
no repouso do descaso
A fenda do humilde
onde habito
encontro do real
com o passo
nunca imaginado
Nele, a imagem antevista
lembranças da montanha
meu cavalo subterrâneo
Ele já vive em mim
Um coração enorme
que só restava conhecer
Penetrar o reino do silêncio
e te escutar, como pedra
Feito rachadura.
De-existência
Cavalgar somente
no flamejo da noite
e aprender a ser
Atravessar um mar
onde repousa o que
se esqueceu
Fazer dos passos de outrem
um retorno a si
Falar somente o necessário.